segunda-feira, 28 de março de 2011

Obama perdeu a bússola



O presidente Barack Obama veio como a esperança dos Estados Unidos e do mundo. Mas tudo leva a crer que Obama tem colecionado mais fracassos. A tragédia do homem certo a quem coube se eleger para governar o país errado, na hora errada. O presidente dos EUA abandonou de vez, ao que tudo indica, o mais simbólico de seus compromissos. Recentemente, revogou seu próprio decreto que suspendia os julgamentos dos presos de Guantánamo por tribunais militares, permitindo sua retomada.
Durante empolgante campanha eleitoral, o candidato Obama prometeu fechar a famigerada prisão de Guantánamo assim que assumisse o governo. No dia de sua posse, reafirmou que a prisão estaria fechada no prazo de um ano, ou seja, até janeiro de 2010 e vetou os julgamentos pela justiça militar. Passados dois anos e mais de dois meses volta atrás e arquiva a dupla promessa.
Os atentados às embaixadas dos EUA na Tanzânia e no Quênia, pelo tanzaniano Ahmed Ghailani, que foi levado a julgamento em tribunal civil de Nova York e absolvido da maioria de quase três centenas de acusações por falta de provas. A que restou, de "conspiração", bastou para condená-lo à prisão perpétua, insatisfeitos os republicanos, usaram o veredicto e a pena "leve", para argumentar que não se pode confiar em civis para julgar "terroristas". Obama, mais uma vez, cedeu.
Mas os americanos não perdoam e acham que sua concessão mais séria foi a sua capitulação aos interesses de Wall Street. Mas o fato de não conseguir manter suas posições nem mesmo em questões de pouca importância material, mas simbolicamente marcantes, dá a medida de sua fraqueza. Está à mercê das chantagens dos republicanos para aprovar o orçamento de 2011.
Tudo sinaliza que será muito difícil para Obama dar a volta por cima de maneira comparável. A eleição de meio de mandato foi desastrosa, com a perda de senadores e governos estaduais e da maioria da Câmara e a radicalização da oposição de direita.
A reforma da política nacional de imigração foi inviabilizada no Congresso e tem sido substituída por selvagens leis antiimigrantes. A política externa só acumulou decepções e fracassos e a guerra no Afeganistão e Paquistão vai de mal a pior.
Forças irresistíveis da história, inabilidade política ou simples pé-frio? Digamos assim, um pouco de cada coisa. Obama assumiu os EUA em uma fase estruturalmente desfavorável, de decadência econômica e política relativa. Ademais, em um dos piores momentos possíveis em termos conjunturais, logo após o início da maior crise financeira da história do capitalismo desde 1929. Mas, além disso, Obama fracassou em entender o momento histórico e político e agir de acordo. Fez campanha para corrigir o rumo de um país no auge da prosperidade no sentido da justiça social e bom senso ambiental. Não encontrou o tal país e perdeu completamente a bússola.
Obama governa sob o signo do medo e da omissão. Os medos de Obama o aconselharam a propor soluções de pé quebrado para as questões que afligem a maioria da sociedade americana - a regulamentação dos mercados financeiros e as dívidas hipotecárias.
Obama veio pela primeira vez ao Brasil em busca de um recomeço. Está num momento muito ruim. Às vezes, a necessidade vence o conforto. Nada tenho com a "teoria da conspiração". No Municipal discursou para a elite. Não temos porque lamber as botas do capitalismo. No mais, será um passo para tentar fortalecer uma relação desgastada.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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