quarta-feira, 9 de março de 2011

O desafio chega pelo mar


Este mundo nunca mais será o mesmo. Nova York, 8h48, terça-feira, 11 de setembro de 2001. Depois dos atentados em Nova York e Washington, mudam o conceito de terrorismo e a forma com que o terror será combatido, enquanto os americanos descobrem que também são vulneráveis. A missão primordial da Imprensa é a informação organizada, contextualizada e analisada de uma forma coerente e útil. Esse papel já era preponderante antes do advento da internet.
Ademais, há que ter cuidado e se tornou essencial com o surgimento da rede que conecta bilhões de computadores ao redor do mundo, permitindo a disseminação instantânea de volumes gigantescos de informação sobre determinado assunto. Um dos defeitos da rede é o de não filtrar, classificar, verificar e hierarquizar as informações por sua qualidade e interesse para quem dela se utiliza.
Nesse contexto que contamina pela pressa e fragmentação a cobertura televisiva, a cobertura das edições dos jornais e revistas reveste-se de valor crescente. Oferecem análises claras e ao mesmo tempo aprofundadas sobre o fenômeno do fundamentalismo islâmico e os perigos que o radicalismo trazia e traz para a civilização ocidental. Entre as projeções feitas pela mídia, estava a de que, cedo ou tarde, o ódio religioso tomaria de assalto as vontades da juventude empobrecida, fragilizada, tiranizada e sem esperança dos países árabes. É esse processo que faz ferver o caldeirão do Oriente Médio.
Agora, nesse vale-tudo que só produziu ditadores sanguinários, mesmo sem chegar a tanto, a propagação da influência iraniana já cria uma nova realidade geopolítica. Só o Irã ganhou com as revoltas. E por se achar um vencedor, o país dá mostras de vitalidade, o fundamentalismo religioso canta vitória e exorta a massa. Eles sorriem, até os circunspectos aiatolás iranianos deixam entrever os dentinhos no momento. A ótica iraniana: um nada espontâneo protesto joga Barak Obama e Muammar Kaddafi no mesmo saco, e Khamenei festeja a queda dos inimigos.
E o Irã chega pelo mar. Essas provocações explícitas não são bem-vindas para Israel, nem para a ocupada Palestina. Dois navios de guerra de bandeira iraniana atravessaram, pela primeira vez em mais de três décadas, o Canal de Suez e se impõem no Mediterrâneo, em clara demonstração de força à vista de Jerusalém e Washington. O chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, fala em "provocação" por parte de Teerã e na "iranização" do Oriente Médio.
Ao passo que, da Faixa de Gaza, de onde se podem avistar as manobras iranianas, a questão a inquietar é outra. Washington vetou a Resolução do Conselho de Segurança da ONU que condena os assentamentos israelenses em territórios ocupados em Jerusalém Leste e na Cisjordânia. Trocando em miúdos, as críticas de Washington aos assentamentos eram conversa para árabe ver. Com o veto, o primeiro-ministro conservador Benjamin Netanyahu recebeu sinal verde para continuar expandindo o território israelense.
Pergunta pertinente: por que aviões e navios de guerra israelenses podem violar o espaço aéreo e as águas territoriais de outros países, como o fazem também os EUA, e ficam alarmados quando navios de um país islâmico atravessam legalmente o Canal de Suez? A condição é que o navio em causa não seja amigo de um país em Estado de guerra com o Egito.
Ah, qualquer que seja o final dessa história, a estrutura global baseada na hegemonia dos Estados Unidos na região é finita.

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SERGIO BARRA é médico e professoR
sergiobarra9@gmail.com

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