quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Não espere 2011
Embora todos saibamos que o tempo é uma grandeza em movimento, na prática nos comportamos como se fosse estático. A vida, com suas obrigações tão fixas, gera em nós uma falsa noção do caráter efêmero da existência. O dever de estudar, trabalhar, cuidar de filhos e atender a um mundo de outros afazeres nos faz viver aqui uma eternidade em miniatura. Viver com a falsa impressão de que tudo permanecerá do jeito que sempre foi.
Nada obstante, devemos considerar que esse empréstimo de eternidade é fundamental ao nosso tempo reduzido. É isto que embala à vida. É o motor que nos faz andar sempre para frente, em busca de uma estabilidade. É a certeza do amanhã que nos faz trabalhar tanto no dia de hoje. Que nos faz produzir, acreditar e ter esperança. Buscar o crescimento em todas as áreas. Parafraseando o poeta, devemos viver bem a nossa eternidade enquanto dure. Nossas décadas, como séculos. Cada hora fugaz, com a segurança de um milênio.
Mas primeiro devemos considerar mesmo o tempo. Olhar calendários e ler a História. O Sol tem uma fatia de luz para cada um de nós. Dias contados a cada nascente e a cada crepúsculo. Porções generosas de vida a distribuir a cada geração. Isto nos fala de nosso limite natural.
Moisés pediu a Deus que o ensinasse a contar seus dias. Depois de concluir que a nossa vida está programada para durar setenta ou oitenta anos, o patriarca rogou que o Altíssimo o fizesse enxergar a contagem de seu tempo. Ele buscava alcançar um coração sábio, que não desprezasse para si o destino comum a todos os homens.
Quando lidamos com a História estas verdades são quase palpáveis. É o que acontece comigo em relação à Assembleia de Deus, na qual sou responsável pelo museu nacional da instituição, sediado aqui em Belém. Todos sabemos que essa igreja completará seu primeiro século em 18 de junho de 2011. Porém, em tão pouco tempo, um exército de pastores e crentes já descansam. Fico olhando suas fotos, expressões cheias de vida, que hoje não passam de simples registros guardados em nosso acervo histórico.
Vez ou outra, precisamos fazer um ensaio sobre o tempo: olhar algumas décadas passadas, se possível antes de nosso nascimento. A gente verá que o mundo existia sem a nossa presença. Depois enxergar um século para frente. E veremos que o mundo igualmente prossegue. Então concluímos que, não obstante todo o orgulho que às vezes evidenciamos, o tempo arrasta o mundo, independente de quem o habite em certa época.
Então, qual a nossa tarefa? Não é outra, senão viver bem o tempo que nos está reservado. Não é possível que, sendo criaturas inteligentes, passemos por aqui de qualquer modo. Que não cumpramos bem nosso papel. Que não deixemos bons rastros. A mínima contribuição àqueles que receberão o trabalho de prosseguir tocando a vida.
Não é possível que vivamos pouco, mas odiemos tanto. Que tendo nascido nus, vivamos orgulhosos de fortunas que não cobrirão nossos corpos na sepultura. Que não cedamos ao convite de Deus para repartir um pouco com quem morre ao nosso lado. Impossível viver bem sendo perverso, egoísta, avarento e enganador.
Às vezes nos enganamos com o Sol. Todo dia ele nasce. Todo dia ele se encobre. Parece um ciclo eterno. As boas coisas são deixadas para depois. Haverá um novo dia, outro dia, mais um dia. Porém, o amanhã nunca chega. E, quando chegar, será chamado de hoje.
Por isso, não espere 2011 para resolver o que deve ser feito. Busque a paz hoje mesmo. Reconcilie-se. Perdoe. Planeje. Estude. Trabalhe. Creia em Deus.
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RUI RAIOL é pastor e escritor (www.ruiraiol.com.br)
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