terça-feira, 28 de dezembro de 2010

E o palhaço, quem é?


Sobre a polêmica em torno da tentativa de promotor paulista em impedir, pela via judicial, a diplomação e posse do palhaço Tiririca, alegando sua condição de analfabeto, o senador Magno Malta declarou à imprensa "que o maior problema do Congresso Nacional não são os analfabetos funcionais, mas os sabidos demais".
Dias depois, os parlamentares confirmaram essa assertiva aprovando reajuste de 65% em seus subsídios e de 130% para a nova presidenta da República e futuros ministros de Estado, nas caladas da noite, como fazem os que temem a luz do dia. A votação foi simbólica, com o voto das lideranças, manobra que dispensa o constrangimento de suas excelências declinarem seu voto abertamente.
Afinal, certas sutilezas não devem ser conhecidas pelo distinto público que paga a conta. Conta que está ficando cada vez mais salgada, na medida em que crescem as mordomias dos parlamentares, insaciáveis no uso e abuso do dinheiro público, como se esse fosse um “butim” inesgotável de recursos "não contabilizados".
Os escândalos revelados pela Imprensa se sucedem como "nunca antes na história deste País". Atos secretos para nomear parentes e amantes no senado, desvio de verbas públicas para financiar Organizações Não Governamentais (ONGs) fantasmas, beneficiando parentes e amigos de deputados federais, pagamento de diárias para viagens não realizadas, 14ª salário, cartões corporativos, fornecimento de passagens para viagens ao exterior de assessores, esposas e até namoradas de parlamentares, verbas de gabinete, verbas indenizatórias, auxílio-moradia, auxílio-combustível, auxílio-paletó, são apenas alguns dos componentes desse "caldo de cultura" que transforma o Congresso em um palco onde se exibem, com desenvoltura, talentosos malabaristas do baixo clero, adeptos da Lei de Gerson (“o importante é levar vantagem em tudo“), a única lei que realmente “pegou” pra valer em nosso país tropical, bonito pela própria natureza.
A Lei da Responsabilidade Fiscal, festejada como grande conquista para moralizar a gestão pública, deixou de ser levada a sério pela classe política e até pelo Judiciário, que também tem lá suas "fraquezas", como o nepotismo que viceja como "praga" em suas varas e palácios, mordomias à altura da pompa e circunstância de algumas vestais togadas, além da morosidade abissal, que contrasta com a rapidez de certas sentenças milionárias beneficiando "fantasmas" por ordens vindas "de cima".
Nos Tribunais de Contas, a gastança não é menor. Há conselheiros com renda "familiar" mensal superior a R$ 100 mil mensais. Ali, as contas de gestores públicos quase sempre são aprovadas, algumas com ressalvas, se tanto. No último pleito houve candidato com patrimônio pessoal de R$ 80 mil reais gastando milhões com propaganda eleitoral. De que fonte generosa jorra tanto dinheiro? Será que o Ministério Público Eleitoral não tem curiosidade em investigar ?
Cientistas políticos proclamam que a solução para a "fadiga" desse modelo de democracia representativa seria a reforma política. Há controvérsias. O carro-chefe do projeto de reforma política é o financiamento de campanhas com dinheiro público. Logo, a fonte é a mesma. Quem paga a conta também.
Com Tiririca, que gostou do que viu, ao visitar a Câmara dos Deputados, no dia em que foi aprovado o fantástico aumento dos subsídios parlamentares, o Congresso certamente será mais divertido. Mas, para o contribuinte, pior do que está, sim, poderá ficar.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

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