Quem disse que o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi (na foto), tinha seu destino selado equivocou-se completamente. Berlusconi se utilizou, como velha raposa, do risco de aprofundamento da crise econômica do país para tentar convencer os membros da Câmara e do Senado. E funcionou. O congresso italiano decide pela permanência do primeiro-ministro.
Berlusconi controla boa parte da mídia privada e estatal, especialmente a televisão. Berlusconi manipula a opinião. Por volta de 70% dos italianos se informam sobre política por meio da TV. Este é o terceiro mandato (não consecutivo) do Il Cavaliere. Somando tudo, são oito anos no poder, a maior permanência de um premiê italiano desde o ditador Benito Mussolini.
Que gênero de compromisso teria de ser negociado com um governo que breve estaria a ponto de submergir? A coisa não ficou tão clara, mas digamos assim, o suficiente para o resistente Berlusconi soçobrar e voltar à tona. Analistas políticos acreditam que há denúncias de que o governo tem oferecido dinheiro e cargos para atrair deputados. Berlusconi é acusado, entre outras coisas, de receber dinheiro de russos para fechar contrato do governo e de ligação com a Máfia. Ele nega e diz ser vítima de perseguição política.
Mas são seus “escândalos sexuais” que mais chamam atenção. Prostitutas afirmam que ele organiza festas para outros políticos e amigos em sua casa, onde comparecem até menores de idade. Entre um escândalo sexual e outro, o premiê italiano é frequentemente chamado por alguns adjetivos: corrupto, autoritário, machista, cafajeste.
Ora, não se vence a batalha contra o crime organizado, quer de matriz mafiosa, quer terrorista, sem ataque à economia que movimenta e lhe dá força. Quando a meta é levar as associações delinquenciais à bancarrota, torna-se imprescindível a coleta de dados, como a da casa do chefão do tráfico de drogas ilícitas do Complexo do Alemão ou os estabilizados 200 mil hectares de arbustos de coca nos países andinos. Sem o desfalque patrimonial, as organizações criminosas continuam a exercitar o poder corruptor, a se infiltrar no poder e na época eleitoral.
Depois de ver o sol nascer quadrado, Al Capone, que controlava em Chicago a famiglia da Cosa Nostra, resolveu revelar como conseguiu, em 13 anos de Lei Seca (1920-33), amealhar 60 milhões de dólares. À época a polícia parecia lhe pertencer. E para ter a polícia na mão, Capone precisava de dinheiro. Parênteses: Capone, que era rude, não lavava dinheiro e foi preso por sonegar tributos. O lavador de dinheiro da Cosa Nostra século-norte-americana era Meyer Lansky, dado como gênio das finanças. Lansky nunca foi preso e jamais passou mais de 30 minutos num distrito policial.
Conforme revelado por revista de circulação nacional, a polícia carioca utiliza um potente software. Como o programa carece ser abastecido de dados, algo anda a falhar. Dessa base de dados não contava a casa com piscina e deck no Alemão. Numa maior visibilidade, a criminalidade organizada do Rio de Janeiro (CV) e de São Paulo (PCC) ainda não foi atingida para valer no seu “bolso”. Com efeito, o secretário de Segurança do Rio, conseguiu pela primeira vez na historia nacional uma marcante vitória contra o crime organizado na Vila Cruzeiro (Penha) e no Alemão. Convém não esquecer um importante e atual ensinamento: a lavagem de dinheiro é como o banco de sangue que dá vida ao crime organizado.
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SERGIO BARRA é médico e professor
E-mail: sergiobarra9@gmail.com
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