Inescapavelmente, as eleições falam por elas mesmas. Elas não sabem qual o caminho do vento. À medida que o segundo turno da eleição presidencial terminou, o clima de conflito se acirrou em terras tupiniquins. O enfrentamento entre os partidários de José Serra e Dilma Rousseff descambou para a agressão. O presidente da República perdeu o comedimento - e o País assistiu atônito ao jogo da política como se fosse decisão de título mundial, com pega geral aos 45 minutos do segundo tempo. O melancólico episódio na Zona Oeste do Rio de Janeiro, em que uma turba de petistas encurralou, intimidou e atirou objetos em Serra, foi seguido de incidentes ridículos. Serra sem lesão aparente fez exame médico em hospital. Depois se comprovou tratar-se de bolinha de papel. É inadmissível que um candidato à Presidência seja impedido de caminhar. Contudo, imagine-se se um bando de militantes tucanos tivesse jogado no rosto de Dilma bolinhas e rolos de adesivos, empurrando-a para dentro de uma loja, pode-se imaginar a fúria de Luiz Inácio? E Nosso Guia, em vez de ficar em seu lugar como magistrado, propagou uma versão fantasiosa como se fosse mero militante.
Entende-se porque toda essa convicção da oposição virou verdadeira obsessão. Claro que há seriedade e bons propósitos nas pesquisas de intenção de votos. O que ferra os institutos é a abertura das urnas. Mas qualquer que seja o resultado da eleição presidencial - e as pesquisas apontaram certo favoritismo de Dilma -, o país despertou com uma severa carraspana cívica.
Mas vamos fazer de contas que tentaremos esquecer muitas cenas ridículas do segundo turno. A politização reles do aborto e da religião, o populismo escancarado dos programas eleitorais, as acusações vazias de sentido, a manipulação vil de números (mas quando a pesquisa de opinião não tem de ser confrontada com a realidade, há controvérsias. O problema é que ninguém consegue obter respostas sinceras), os debates sonolentos e enfadonhos que caminharam com a mesmice de sempre, achando que o eleitor funciona com um puxão de orelhas desses tempos medíocres.
"O político medíocre preocupa-se com as próximas eleições, o verdadeiro estadista preocupa-se com as próximas gerações", disse sir Winston Churchill, ao definir a diferença entre a vulgaridade e a grandeza da política. Pergunta pertinente: Onde estão os estadistas? Ninguém é capaz de apontar um dentre os atuais mandatários mundiais. No ar, além da provocação fica o desafio para se apontar um estadista.
Essa asseverativa de Churchill, desde quando a lapidar sentença foi pronunciada, nos remete para estes tempos de políticos e governantes vestidos de santos e heróis, com sua imagem alçada ao altar da fama graças ao assistencialismo e clientelismo oferecido aos necessitados e à arte de usar o palco para desfiles pirotécnicos. A filantropia, a caridade, a assistência social, o altruísmo e a repressão às ilicitudes são, sem dúvida, coisas admiráveis, mas devem pertencer ao arsenal da fortaleza ético-moral do Estado.
Dirigentes precisam ter cuidados para separar o campo da gestão pública, que dirigem, da seara da promoção pessoal, que ambicionam. O apego à verdade é um ótimo lema.
O Brasil do ano eleitoral que se encerra, mesmo que o resultado final possa ser diferente do esperado, tem algo da atmosfera imaginária na qual, há muito vale a pena deter-se na consideração do seu significado.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
Mesmo depois de apurado o resultado das urnas, mesmo depois de uma vitória incontestável da "mulher do Lula", continuarão a inisitir que o episódio do RJ foi uma encenação. A fraude da bolinha de papel já foi desmascarada. O SBT reviu seu erra e enviou carta à revista VEJA. Mas nosso colunista insiste na mesma tese pautada pelo Petismo em campanha.
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