Doutos cientistas e eminentes tratadistas políticos tentam explicar o fenômeno Marina e o efeito mais visível de sua extraordinária votação, o de ter provocado o segundo turno, na prática, uma nova eleição. Fato que é de grande relevância para democracia em nosso País, pois serviu para “baixar a bola”de muitos “conselheiros” que, inspirados no modelo bolchevique, desejam aparelhar o Estado, amordaçar a Imprensa “burguesa/golpista” do PIG , "controlar" o Ministério Público e se eternizar no poder, com partido e pensamento único. O próprio Lula, que já tinha encomendado a “festa da vitória”, na noite de domingo, dia 3, nas dependências do Palácio da Alvorada, mandando às favas os escrúpulos de ordem constitucional, reconheceu que o segundo turno “foi muito bom para devolver humildade” aos companheiros triunfalistas , que já haviam se apropriado da “vitória” plebiscitária de Dilma, no primeiro turno, como desenhado pelas "pesquisas camaradas".
"Nunca antes na história deste país" - como diz o presidente para assinalar que a história do Brasil agora se divide em duas eras, AL e DL , Antes e Depois de Lula - tivemos uma "noiva" política tão desejada quanto Marina. Todos querem ouvir Marina, todos querem seu apoio. Marina, que só tem de frágil a aparência física, embora gostando de ser cortejada, como toda mulher bonita, procura se livrar do assédio explícito, remetendo a decisão para o colegiado do Partido Verde, composto de ambientalistas sinceros, mas também de alguns "lobinhos" famintos e loucos para aderir a qualquer candidato, desde que a proposta seja "suculenta" e recheada de cargos em ministérios e estatais. E é aí que mora o perigo.
Marina conseguiu empolgar 20 milhões de brasileiros justamente pela sua postura firme a altiva, trocando o embate pelo debate, focando em questões nacionais e ambientais, sem descer ao nível de questiúnculas pessoais e outros temas menores. Marina também conseguiu o apoio de jovens idealistas que não iam votar em ninguém e que votaram nela, acreditando na sinceridade de suas propostas. Ela também devolveu esperança a milhares de ex-militantes petistas desencantados com os rumos que o partido tomou ao assumir o poder, aliando-se a oligarcas jurássicos, responsáveis pela cultura do atraso político em nosso País, além de rasgar todos os compromissos com a ética e a transparência na administração pública. Ao atrair tantos anseios pela mudança desse modelo rapace de se fazer política, Marina ficou maior que seu partido. Por isso, ela agora está sendo cobrada a tomar uma posição a favor de Serra ou de Dilma. Os “lobinhos” do PV querem simplificar as coisas, ávidos pelas “propostas” não de governo, mas de cargos e DAS.
Marina resiste porque entende que esse capital de 20 milhões de votos representa um investimento de brasileiros que ainda não perderam a esperança de um novo Brasil. Eleitores que votaram nas suas propostas de um governo transparente e ético, que respeite o meio ambiente, a diversidade cultural e a liberdade de expressão, sem “marcos regulatórios”. Um governo que responda aos anseios da sociedade por igualdade de oportunidades na educação, de acesso ao emprego e à saúde pública de qualidade, além da garantia ao cidadão do direito constitucional de ir e vir sem ser assaltado ou morto. Um governo que promova as reformas, sobretudo tributária e política, indispensáveis para o crescimento do País, sem as amarras do atraso e da carga pesada de impostos que penaliza a produção e incentiva a especulação. Marina, portanto, não está querendo cargos ou vantagens.
Ela aposta em projetos de governo e não de poder. Ela tem consciência de que seu patrimônio eleitoral é imaterial, composto também de ideais, esperanças e sonhos, que não podem virar moedas de troca na feira das vaidades ou no balcão de negócios das veleidades políticas. Quem não entender isso não conquistará o coração de Marina. Nem seus 20 milhões de eleitores. Serra talvez até levasse vantagem na disputa pelo apoio de Marina se trocasse seu atual vice, um índio de Copacabana, por um índio de verdade, quem sabe o cacique Raoni, da tribo dos Kaiapós...
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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br
É uma pena que Marina não tenha saido do PT logo que soube do escândalo do mansalão.
ResponderExcluirTambém agora não poderá juntar forças com quem sempre bateu no Senado (o PSDB).
O que irá acontecer é que não ficará de lado algum. Vai agradecer os votos (que na verdade não foram para ela e sim contra a Dilma e a Erenice Guerra).
Caro Sidou,
ResponderExcluirPrópria da lavra de um grande jornalista como você, "Os Encantos de Marina" é a sinopse de uma realidade política que o País vem experimentando, DESDE QUANDO O METALÚRGICO SEMI-ANALFABETO chegou ao Poder, pela vontade soberana das massas. Assim digo sem estabelecer contraponto às suas pertinentes colocações. Marina, a nossa conterrânea, escreveu com a sua candidatura à Presidência da República, quase tudo o que você “pintou”, Sidou. O nome da acreana, porém, ficou à disposição de todo o eleitorado brasileiro. Ocorre que vinte milhões de voto não elegem presidente algum. Intimamente, sabe a doce Marina que perdeu a eleição anos atrás, quando resolveu sair do PT. A sucessora de Lula seria ela, inegavelmente, com facilidade ainda maior do que como acontecerá com a Dilma (confira a pesquisa eleitoral divulgada hoje, pela GLOBO).
No mais, com os meus renovados aplausos pela maestria com que você articula as letras e as idéias no seu brilhante ofício jornalístico, vai aqui uma pitadinha de veneno, diluído nessa perguntinha safada (mas pertinente com certa passagem do seu texto): Você como Presidente da República, eleito por PSDB, PT ou PV (hipoteticamente) convidaria para o seu ministério D.Prado I ?. Duvid-o-do.
Olá,
ResponderExcluirSou o anônimo das 18:14.
Minha opinião sobre a neutralidade de Marina estava correta.
Leiam abaixo notícia da folhaonline (agência Brasil).
"Partido Verde decide ficar neutro no segundo turno
Agência Brasil
Publicação: 17/10/2010 14:51
São Paulo – O PV decidiu neste domingo (17/10), em plenária, ficar neutro no segundo turno das eleições. Havia cerca de 120 votantes na reunião e apenas quatro levantaram a mão pela defesa de definir qual dos dois candidatos apoiar no segundo turno. “Estamos definidos nestas eleições como independentes”, disse o presidente do partido, José Luiz de França Penna.
A senadora Marina Silva, candidata do PV à Presidência no primeiro turno, leu uma carta do partido endereçada aos candidatos Dilma Rousseff e José Serra, em que se declara neutra quanto aos rumos da campanha. Ela, no entanto, evitou manifestar sua opinião sobre o apoio para o segundo turno.
Marina reclamou do embate que vem se travando entre o PSDB e o PT na reta final de campanha e lamentou que os dois partidos que “nasceram inovadores, hoje se mostram conservadores”. Para a senadora, o segundo turno tem mostrado um pragmatismo sem limites."