terça-feira, 31 de agosto de 2010

Censura nunca mais!

A liminar concedida pelo ministro Ayres de Brito, do Supremo Tribunal Federal, suspendendo os efeitos da emenda à Lei Eleitoral que proibia qualquer sátira com uso de imagens ou nomes de candidatos em programas humorísticos, foi recebida com alívio por quantos defendem as liberdades democráticas em nosso país.
A decisão também reflete a vigilância da Suprema Corte na defesa das liberdades constitucionalmente consagradas no Brasil, entre as quais a da livre expressão, pois aconteceu três dias depois da passeata contra o mau humor na política, realizada domingo, no Rio de Janeiro, pelos humoristas brasileiros, em protesto contra a rigidez daquela norma eleitoral. Com faixas e cartazes bem humorados, eles conquistaram a adesão da população carioca, recebendo aplausos em todo o percurso da passeata.
Proibir o riso não parece ser a medida mais adequada para forçar a população a levar a sério os políticos. Em grande parte, os políticos é que não levam a sério a sua "profissão", na medida em que praticam métodos antigos e pouco eficazes para continuar enganando o eleitorado, sem acompanhar as mudanças da sociedade e a dinâmica de suas novas demandas. Censurar os programas humorísticos foi a maneira mais eficaz de aumentar a procura pelos humoristas censurados nas mídias alternativas, principalmente nos blogs e sites de charges na internet, rede mundial por enquanto não alca nçada pela censura, com exceção da China, Irã, Coréia do Norte e Venezuela. Exemplos nada edificantes para nações democráticas como o Brasil - precisamos crer. Já dizia o impoluto Conselheiro Acácio "que toda censura é burra". Veja-se o caso do "empastelamento" da Rádio Tabajara FM. Os "estrategistas" que "armaram" a Operação "Abafa Tabajara" pretendiam tirar do ar o programa "Jogo Aberto" e a radionovela "A Roda o Poder", o primeiro um programa jornalístico isento e a novela uma obra de ficção bem humorada que retrata os costumes políticos nada edificantes de um certo Estado de "Pangará". Conseguiram calar a rádio, mas não evitar a repercussão nacional e internacional do ato truculento contra a liberdade de expressão. Os acessos ao site http://www.radiotabajarafm.com.br/ só fizeram crescer após o lamentável episódio. Todos querem ouvir os catorze capítulos ali disponíveis da rádio novela "A Roda do Poder."
Por essas e outras é que o maior protesto dos humoristas na passeata "Humor sem Censura", no Rio, foi contra a "concorrência desleal" dos políticos que tentam ser engraçados no "Hilário" Político Eleitoral "Gratuito", onde desfilam figuras exóticas com grotescas propostas, algumas tão absurdas que fazem rir, bem melhor do que chorar. Os humoristas profissionais temiam perder seu mercado de trabalho, pois enquanto estavam impedidos de trabalhar com sua arte para fazer o povo sorrir, alguns "amadores" estão obtendo o mesmo resultado como políticos.
Há também humoristas que querem se tornar políticos, como o comediante Tiririca, cuja "plataforma" se resume ao bordão "pior do que está não fica". Aliás, ele corre o "risco" de ser eleito com grande votação, atraindo o voto de protesto debochado dos descontentes com o atual cenário político.
Os nossos aprendizes de censores tupiniquins precisam ler mais e conhecer um pouco da sabedoria milenar japonesa. Há um antigo provérbio japonês que apresenta "o bom humor como cartão de visitas da felicidade no lar, no trabalho e na vida." O próprio ícone das esquerdas, Che Guevara, já aconselhava seus discípulos revolucionários: "Hay que endurecer , pero si perder la ternura jamais" . Uma lição não assimilada por aprendizes de feiticeiros políticos que costumam frequentar os salões, corredores e porões do poder, verbalizando maus conselhos ao "príncipe" (ou princesa), imaginando-se maquiavélicos sem sequer terem lido Maquiavel...
Pretender controlar os meios de comunicação social, através de agências reguladoras ou conselhos da mordaça, é uma tentação autoritária que precisa ser combatida em todas as frentes. Em princípio, os governantes da hora tendem a se julgar melhor dotados de inteligência e preparo que seus antecessores.
Para essa visão distorcida muito contribuem os áulicos de sempre, de todos os governantes, com o culto à personalidade, que incensa vaidades e infla egos. Nesse cenário "cor de rosa, fora da realidade que vem das ruas, qualquer elogio é bem recebido, mas a crítica deve ser combatida e evitada a qualquer custo, mesmo com o jogo bruto da censura e do terrorismo de estado. Imprensa boa é somente aquela que elogia os governantes , mostrando as "realizações" do governo, na base do preceito " ricuperiano": “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde." Portanto, sob essa ótica, jornalistas que criticam e que não podem ser "domesticados" ou "amestrados" com DAS devem ser tirados de cena ou do ar. Essa é uma das facetas mais obscuras da "filosofia bolivariana" de poder na Venezuela, que Chaves pretende exportar para países "amigos".
Outra faceta de "censura estratégica" é o "dunguismo" , filosofia autoritária implantada pelo técnico Dunga no treinamento da seleção durante a Copa 2010, que conseguiu "castrar" não somente a liberdade de informar da Imprensa esportiva, mas também a criatividade, o talento e a arte da seleção brasileira. Deu no que deu. Vexame total. Sem censura, em regime de liberdade para criar, implantado pelo Mano mais velho, os "meninos" da nova seleção, liderados pelo paraense Ganso, Pato e Neymar estão devolvendo a alegria ao futebol e ao povo brasileiro.
Pretender censurar humoristas censurar o talento, a criatividade e a arte, que fazem a alegria do povo, a exemplo do futebol leve e solto jogado pelos saudáveis "moleques" da nova seleção brasileira.
Afinal, como advertia Erasmo de Roterdam, "rir de tudo pode ser coisa de tolos, mas não rir de nada pode ser sintoma de uma grave doença". No caso, a tentação autoritária para castrar as liberdades de pensamento e de expressão, artísticas ou não. Os censores , aprendizes e filhotes de tiranetes provincianos passarão. A liberdade, passarinho.

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

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