Do Contas Abertas
Enquanto os parlamentares decidem no Congresso se flexibilizam o horário obrigatório da Voz do Brasil, transmitida de segunda a sexta-feira às 19 horas em todas as rádios do país, pesquisa divulgada em junho pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República mostra que a audiência do programa não é das maiores. Dos 12 mil entrevistados em 539 municípios espalhados pelas cinco regiões, 80% são ouvintes de rádio. Destes, apenas 32% costumam acompanhar notícias sobre o governo federal pelo rádio, sendo que 21% deles ouvem o programa Voz do Brasil.
O percentual de quem acompanha o programa, no entanto, é maior do que o verificado nos programas Café com o Presidente (6,5%) e Bom Dia Ministro (3,4%). Pior é a situação das governamentais TV Brasil e TV NBR. A pesquisa quantitativa “hábitos de informação e formação de opinião da população brasileira” revela que apenas 37% dos entrevistados já ouviram falar na TV Brasil – dos quais 18% dizem assistir – e somente 17% já ouviram falar em TV NBR, sendo que 10% costumam assistir a alguma programação desse canal.
Os pesquisadores entrevistaram pessoas com mais de 16 anos residentes em domicílios particulares em todo o território brasileiro, entre homens e mulheres de diferentes renda familiar mensal e escolaridade.
Nesta quarta-feira, a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado pode votar projeto de lei que flexibiliza o horário de transmissão da Voz do Brasil. O senador Antônio Carlos Júnior (DEM-BA), relator da proposta, afirma que o programa continuará sendo apresentado em todo o país, mas que as rádios devem ter a opção de escolher um horário entre as 19 horas e meia-noite para divulgação. “O rádio é um prestador de serviços que não pode ter a programação engessada. A flexibilização se torna necessária porque não se pode engessar a programação em horário nobre de divulgação, simplesmente esquecendo outras notícias importantes do Brasil e do mundo”, afirma.
Outros parlamentares da base aliada e da oposição consideram a obrigação do horário antidemocrática. O coro é de que não se pode impor ao ouvinte como única alternativa o programa. “É uma violência ao próprio princípio da liberdade de informação”, afirma Sérgio Zambiasi (PTB-RS). No entanto, há parlamentares que consideram o horário adequado para determinadas regiões e que é fundamental se transmitir a Voz do Brasil às 19 horas a áreas longínquas.
Para o presidente da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero, na época em que a Voz do Brasil foi criada não existiam canais de órgãos dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) para se comunicar com a população. “Isso era feito apenas por meio de rádios comercias. Atualmente, existem mais de 450 emissoras como a TV Justiça, TV Senado, Rádio Nacional, entre outras, que mostram as diversas formas que esses poderes podem se comunicar com a população, sem ser exclusivamente pela Voz do Brasil”, lembra.
Slaviero afirma que o setor não é contrário à veiculação do programa, pois se entende que ele contribui. “Mas o horário fixo das 19 horas está totalmente inadequado para a realidade da sociedade brasileira”, diz.
Pode ter certeza que se for feita uma pesquisa a respeito dos canais por assinatura, a audiência é infinitamente abaixo da Voz do Brasil. E ninguém ousa propor o desaparecimento desse tipo de mídia. Os 21% que ouvem a Voz do Brasil, com certeza são cidadãos, sobretudo das áreas rurais que ainda não dispõem do acesso a outros meios mais atraentes de comunicação.Contudo, é bom não esquecer que mesmo os que vivem nas áreas urbanas, muita gente faz opção por assistir a TV Senado, TV Câmara, TV Justiça e outra mídias segmentadas. Essa tentativa de querer acabar com as emissoras públicas é velha. Mas não cola.
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