terça-feira, 6 de julho de 2010
Que inteligência!
Depois que o Ibope registrou a vantagem de Dilma Rousseff, a campanha tucana entrou num momento delicado. A frase mais ouvida no Q.G. do PSDB lembra o abraço de jogador quando a partida fica difícil: “Dá para ganhar”. A subida de Dilma nas pesquisas era antecipada por levantamentos internos tucanos e coloca em questão a estratégia de campanha, que previa uma liderança moderada, mais firme, de José Serra pelo menos até o horário político.
Dois fatores foram decisivos para as dificuldades de Serra. Primeiro, que de nada adiantou ao ex-governador de São Paulo retardar o lançamento de sua candidatura. Depois, a esperança de convencer Aécio Neves mostrou-se vã. Tudo indica que as verdadeiras dificuldades enfrentadas por Serra estão apenas começando. Serra está na descendente. O tucano assiste a adversária petista abrir vantagem na CNI-Ibope.
Que inteligência... O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, disse desconfiar da última pesquisa do Ibope, feita sob encomenda da Confederação Nacional da Indústria, que apontou a candidata do PT, Dilma Rousseff, à frente do tucano Serra: 40% a 35% ou 38,2% a 32,3%, a depender se a simulação inclui ou não os presidenciáveis nanicos. Como o partido armou uma “invasão” no Instituto Sensus, o primeiro a captar a ascensão da ex-ministra, e costuma desqualificar o Vox Populi como, digamos assim, chapa-branca, resta apenas a esperança no Datafolha. O que dirá Guerra se a empresa, ligada ao jornal “Folha de S.Paulo”, colher, em seu próprio levantamento, números semelhantes?
Que inteligência... Sim, pois tudo indica tratar-se de uma tendência, resiliente nas atuais circunstâncias, que só uma parte da oposição e da mídia disposta a viver em um mundo semelhante ao criado pelas maquinas de Matrix se recusa a enxergar.
Que inteligência... Do embate dos conformismos, o da minoria e o da maioria, surge uma zona de desencontro muito mais vasta do que parece, a qual se alastra e se torna cada dia mais evidente. A adesão da minoria aos preconceitos, equívocos, vícios pueris, sem desprezar a ignorância e a vocação para o exibicionismo, continua mais ou menos intacta. Já a maioria mostra-se muito menos aturdida, muito menos desarmada, muito menos confusa e incerta.
Sim, que inteligência... Os donos do poder não percebem que o próprio lhes escapa entre os dedos como areia. Na história do País, há um divisor de águas: a eleição de 2002. De certa maneira, a fronteira vincada entre o passado e o futuro independe do ex-metalúrgico e de sua esperta "Carta aos Brasileiros" e dos seus dois mandatos, cujos êxitos mais nítidos a minoria, aliás, não reconhece.
Um operário na Presidência da República é um peso insuportável no plexo de quem se pretende aristocrata e de quem jamais será o individuo de classe média da Revolução Francesa. E além do mais, um operário de muitos pontos de vista mais talentoso, nas áreas mais variadas, do que seus predecessores, conquanto engravatados. Só não vê quem não quer. O povo identificou-se com o Nosso Guia e se viu representado, finalmente. Consciente de sua escolha.
A campainha do alarme soou. Não é preciso combater à sombra. Que alívio para os persas nas Termópilas. A história começa a ser escrita de forma oposta. Permito-me comentar o crescente fracasso dos persas, digo, da mídia nativa. Ficou claro em 2002, e mais em 2006, que ela atira fora do alvo. A maioria a ignora, e este é sinal peremptório de tempos diferentes.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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