quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pós-Copa

No blog Na Rede, da jornalista Ana Diniz, sob o título acima:

De repente, o Brasil perdeu, e não havia revolta.
Alguma tristeza, sim, mas nem de longe comparada às outras vezes. A torcida recolheu suas bandeiras, fantasias, e no dia seguinte se consolou com a goleada alemã. Rápido, fácil, como se tivesse consciência de... de que?
Algo mudou.
Talvez porque essa seleção que foi para a África seja de brasileiros, mas não seja brasileira. São jogadores reconhecidos; triunfaram no primeiro mundo; alguns já têm dupla nacionalidade. São jogadores até amados e admirados pelas torcidas. Mas estão longe demais, tanto no quotidiano dos jogos, como no nível de renda, do comum dos jogadores brasileiros, para serem identificados com o país. Ou com a torcida, que só muito raramente os vê jogar, e pela televisão, e defendendo outras cores que não as do Flamengo, Coríntians, Vasco, Palmeiras...
O clamor para a convocação de Ganso tem a ver com essa proximidade, assim como a torcida pelo Uruguai – na verdade, pelo bem próximo Loco Abreu. Jogam aqui, conhecemos seus altos e baixos, do que é capaz e do que não é.
Mas há algo mais.
Federações, confederações, técnicos, cartolas e jogadores mostraram-se perfeitamente conformados com duas aberrações: uma bola torta, defeituosa, inadequada para o futebol, e um péssimo nível de arbitragem. Todas as seleções foram prejudicadas, em algum momento, por essa bola. Pelo menos três seleções foram diretamente prejudicadas pela arbitragem ruim. Mas a Adidas anuncia recorde de vendas da Jabulani, no melhor estilo “reclamem, mas me comprem, lixe-se o mundo todo”, e a FIFA explica, com o maior cinismo, que os árbritros trazidos de locais onde o futebol ainda é uma promessa são parte de um plano para disseminar o esporte...
Que, no Brasil, é cada vez menos esporte para ser exporte.
Por mera curiosidade, fui xeretar o que é direito federativo e direito econômico nos contratos de jogadores. Concluí que jogador é quase um servo moderno: da feita que assina um contrato, passa a ser uma pessoa a ser explorada. Como um barranco de garimpo: se der ouro, ganha o garimpeiro, o dono do barranco e todas as pessoas que participam dos direitos. Se não der, fica o vínculo até o final do prazo – encostado ali.
Garotos do sub-sub-sub, apenas apresentam algum talento, já são comprometidos, pelos clubes, com grupos econômicos. Então não é de se espantar quando aparece numa grande seleção um Cacau, um Túlio Tanaka, que passou por clubes brasileiros e de quem nunca se ouviu falar. Eles não puderam nem se apresentar ao torcedor...
Talvez que isso seja a forma moderna de gerenciar o esporte, talvez.
Mas o resultado é uma seleção de brasileiros, em vez de uma seleção brasileira.
Eu acredito sinceramente que esses jogadores, ao vestir a camisa amarela, se emocionem em pensar no Brasil. Mas esse sentimento é misturado com toda a expectativa financeira que vem junto com a camisa vitoriosa. É mau, isso? Creio que não, mas seria melhor que essa expectativa não estivesse em final de carreira, ou estivesse em pessoas que estão em vias de se projetar para o mundo.
Isso não aconteceu desta vez. Possivelmente é uma das razões para o rápido conformismo da torcida, o resfriamento rápido de um entusiasmo que sequer chegou a encher o espaço frente ao telão do Copacabana.
Pressinto que o torcedor gostaria mais de uma seleção cheia de altos e baixos, mas com a maioria dos jogadores saídos do Campeonato Brasileiro do que uma cheia de vitoriosos da Liga Européia.
E, com certeza, jogando com a bola adequada e árbitros competentes.

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