terça-feira, 22 de junho de 2010

De olho no eleitorado


Ainda é prematuro decretar o fracasso ou o sucesso dos candidatos às eleições de outubro próximo, mas esse início está sendo auspicioso. Agora, os brasileiros esperam um desempenho decente de cada um deles na campanha que se avizinha. Em quais candidatos confiar? Em outras palavras, quem vai ganhar o voto dos eleitores? O eleitorado cresceu 6% desde 2006, principalmente nos Estados tucanos. O crescimento do eleitorado foi maior nas regiões Sul-Sudeste, que concentram também a maior parte da população brasileira. A disputa está acirrada nos Estados com maior número de eleitores. Em 2006, o PSDB teve maioria em apenas dois deles. Em 2010, o placar está empatado.
O roteiro é previsível. Os eleitores sabem como funciona. Candidatos são sempre candidatos, haverão de dizer os mais céticos. E candidatos costumam forrar seus recursos de um forte viés político. Em tempo de eleição, viés político tem outra designação: interesse. Não estão errados os que duvidam. Ao contrário, estão certíssimos de externar alguma desconfiança, diante de discursos com vieses políticos em tempos de pré-campanha, como o momento em que vivemos.
É possível olhar os eleitores brasileiros e vê-los de duas maneiras. Podemos considerar que são cidadãos perfeitamente capazes de fazer escolhas, de assumir responsabilidade por seus atos e, claro, arcar com as consequências. Mas podemos ver o inverso: indivíduos incapazes de escolher racionalmente, que agem sem medir o choque de suas decisões e que ignoram aonde elas o conduzem.
Na primeira suposição, tudo é mais simples na estruturação institucional. O desafio é encontrar os meios que assegurem a todos a possibilidade de exercer sua capacidade de escolha. Necessariamente, por meio do aumento do acesso à educação e à informação. Daí em diante, a bola está com eles.
Se, no entanto, supomos que os eleitores são inábeis, temos um intrincado problema de criação de garantias institucionais para protegê-los. Em última instância, de si mesmos. Se não conseguem fazer escolhas racionais, é fundamental estabelecer proteção que os defendam de sua irracionalidade.
Nosso eleitorado cresceu em tamanho, enquanto aumentou seu nível médio de escolaridade. Os segmentos de muito baixa escolaridade diminuíram e desenvolveu a participação das pessoas com mais tempo de escola. Além disso, neste ano, os eleitores com acesso ao segundo grau ou mais, serão 50% do total. Os jovens nas famílias de baixa renda têm cerca do dobro da escolaridade de seus pais e quase quatro vezes mais que a de seus avós.
O eleitorado envelheceu, à medida que o desenvolvimento trouxe a queda da natalidade e a elevação da expectativa de vida. Os eleitores mais maduros (com mais de 40 anos) já são quase a maioria. Deixamos de ser o país dos jovens. Apesar de todas essas mudanças, o eleitor brasileiro amadureceu. Mas há os que ainda insistem em tratá-los como "bobos" da Corte. Nossas elites teimam em vê-los como incapacitados.
Em política, isso quer dizer que não somos mais o país dos eleitores inexperientes. Já passa da hora de acabar com o paternalismo com que nossas elites veem o eleitor popular e de passar a respeitar o que ele quer. Às vezes, o eleitor peca por angelical irresponsabilidade, ou digamos assim, comete alguma tolice. Nossos juízes e procuradores que fiquem tranquilos. Os eleitores estão perfeitamente aptos a cuidar de si mesmos. O eleitor sabe votar. Está presto.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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