segunda-feira, 10 de maio de 2010

Que jornalismo é este que fazemos?

Há regras básicas no jornalismo.
Uma delas é ouvir o tal “outro lado”.
É ouvir a versão contrária.
Uma outra, básica, é evitar a menção ao nome de empresas.
Mas vejam só.
Há certas coisas que nem jornalista entende, quanto mais os leitores, telespectadores ou ouvintes.
Na última quinta-feira, um aposentado foi baleado numa agência bancária, em São Paulo, ao discutir com o vigilante.
Qual agência?
De que banco?
Onde exatamente ela fica?
Os noticiários da TV não disseram.
Sites não informaram.
Rádio não disseram.
Não publicaram nem uma foto, não divulgaram nem uma imagem para que todos pudéssemos identificar qual foi o banco.
Os textos ficaram naquilo: “uma agência”, “um banco”, “um banco situado na zona leste” – coisas do gênero.
Céus!
Mas é preciso dizer em que banco isso ocorreu.
É preciso dizer.
Por quê?
Porque o leitor precisa se prevenir.
Precisa saber onde está pisando.
Com quem está lidando.
Citar o nome da agência agrediria a imagem do banco?
Sim.
Mas o banco – na condição de “outro lado” – poderia se defender.
Bastaria abrir espaço para o contínuo, o gerente, o presidente, enfim, para todos do banco se manifestarem.
Agora, vejam só a diferença de tratamento.
No mesmo dia em que ocorreu esse incidente, informou-se que, numa autoescola também em São Paulo – cujo nome o blog não lembra -, o dono fazia prova em nome dos clientes.
Sabem o que aconteceu?
Mostram imagem da fachada da autoescola: com nome, endereço e tudo.
Por que não divulgar o nome de um banco ou de uma grande empresa?
Só porque é um banco?
Só porque é uma grande empresa?
E por que divulgar o nome, a imagem, o endereço e tudo o mais de uma autoescola?
Só porque é uma autoescolazinha?
Daria para explicar ao leitor, ao telespectador que jornalismo é este que fazemos?
Ah, sim.
O banco onde ocorreu o incidente é o Bradesco.
Eureka!
O Bradesco.
Mas soubemos disso depois.
Muito depois das primeiras informações.

2 comentários:

  1. Bom dia, caríssimo Paulo:

    Da mesma forma que se criou há décadas o "sindicalismo de resultados", inovamos com o "jornalismo de oportunidades".

    Abração.

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  2. Da mesma forma são tratados, misteriosamente não se sabe por que, os postos de gasolina enrolados em adulteração de combustivel.
    Nunca é publicada a relação dos pilantras!
    Por quê hein?!

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