quinta-feira, 29 de abril de 2010
O valor do corpo
Sabemos que a fronteira entre nós e os demais seres está no cérebro. E que o homem reclama para si o topo da escala de inteligência. Todavia, o que passa despercebido para muitos é que todo o complexo de sentimentos, ideias e realizações está preso ao corpo. E que toda classificação entre nossa parte física e mental é falha, caso não considere que a porção mais etérea de nosso ser também é corpo.
A vida se torna mais simples quando consideramos o corpo. Não existe outra realidade para nós. Mesmo a religião e toda ideia de Deus passa pela existência do corpo. É em nossa mente que se processa a fé, a esperança e qualquer noção espiritual. No dizer bíblico, é em nosso corpo que Deus habita, de sorte que somos o templo da Divindade. Verdadeiro templo, edificado pelo próprio Deus.
Agora, veja comigo esta cena: você avista dezenas de pessoas caminhando numa grande avenida. Sabe onde estão todos os problemas de cada um desses transeuntes? Estão dentro do limite de cada corpo. Exatamente! É chocante pensar que, morrendo um corpo, com ele morrem seus problemas. Morrem as preocupações. Morrem anseios, medo, pressa. Morre tudo.
Olhe agora as pessoas que estão no seu campo visual. Sabe onde estão os problemas que porventura afligem algumas dessas criaturas? Estão ali, presos por uma pele, limitados por uma quantidade de matéria. Um centímetro fora desse invólucro, e nada existe. Então, se a maioria de nossos problemas finda-se com a morte, por que devemos nos preocupar tanto com eles?
Nossa mente fantasia muito. Quem somos? Somos grandes! - é a resposta do cérebro. Nosso pensamento nos leva a imaginar que somos o que temos e o que não temos. Por ele, somos a extensão do carro, do belo apartamento, dos títulos, fama, beleza, emprego... Nada disso: friamente, somos exatamente o que pode ser pesado numa balança.
Esta observação pode ser demonstrada com a quantidade desses bens que podemos incorporar, isto é, anexá-lo ou diluí-lo ao nosso corpo. Vamos lá: carros, casas e outros bens materiais: Não. Títulos, fama e demais formas espirituais do ser: nenhum. Dívidas e outras modalidades de problemas: Nada. Portanto, tudo isso é estranho ao corpo. Estão agregados à nossa existência, mas não nos dizem respeito.
Se algumas pessoas notassem que não passam de corpo, haveriam de se valorizar um pouco mais. Não beberiam álcool. Não engoliriam fumaça. Evitariam certos alimentos. E procurariam adotar atitudes benéficas, como descansar, a prática regular de exercícios e, quanto possível, se desligariam dos problemas.
Costumamos nos ver sempre pelo lado externo, por isso cuidamos da aparência. Todavia, o que de fato somos está escondido abaixo da pele. Mas a nossa mente fantasia tanto que um simples raios-X parece algo transcendental. Até certas doenças adquirem um quê de mistério, como se estivessem pairando no ar. Nada disso: tudo está contido nessa porção viva de matéria, que muitas vezes ignoramos.
Acredito que um dia do avesso mudaria muita coisa. De plano, todos seríamos mais ou menos iguais. Fígado dependurado, coração batendo, pulmões no vaivém da respiração... Perderíamos a identidade, mas ganharíamos uma exata visão do que somos. Acredito que a partir desse dia muitos abandonariam o cigarro e outras drogas. Pelo menos enquanto se lembrassem da cor de seus pulmões.
Cuidar do corpo é cuidar de tudo, inclusive da alma. Segundo a Bíblia, nosso corpo será transformado na Ressurreição. Isto significa que ele seguirá conosco rumo ao Céu. Não é descartável.
É bom começar logo a revisão!
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RUI RAIOL é pastor e escritor (www.ruiraiol.com.br)
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