sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O "bolo" do bolão


Um grupo de moradores de Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre, sentiu o gosto de acertar as seis dezenas da Mega-Sena e a desilusão de descobrir que não receberá os R$ 53,3 milhões sorteados no sábado passado. Eles compraram cotas de um "bolão" oferecido pela agência lotérica Esquina da Sorte, mas o jogo não foi lançado no sistema de controle da Caixa Econômica Federal.
Ao conferir as dezenas 20, 28, 40, 41, 51 e 58 sorteadas no concurso 1.155, os apostadores sentiram-se milionários. Poucas horas depois, quando procuraram saber o número de acertadores com quem dividiriam o dinheiro, descobriram que ninguém ganhou o prêmio, acumulado para o próximo concurso. "Acordamos ricos e dormimos pobres", resumiu o motorista Jadir Quadros, 40 anos, referindo-se ao domingo que ele e os outros apostadores passaram.
A modalidade bolão é montada e vendida pelas lotéricas com base apenas numa relação de confiança com seus clientes. O apostador fica com um comprovante oferecido pela casa, enquanto esta paga os jogos à Caixa e retém o volante oficial, o único que dá direito à retirada do dinheiro. No caso de Novo Hamburgo, foi oferecida a participação em 15 diferentes jogos a 40 pessoas, que pagaram R$ 11 cada uma para participar da associação informal. Uma das combinações continha as dezenas sorteadas no sábado.
Se tivessem dividido o prêmio por 40, os apostadores de Novo Hamburgo receberiam cerca de R$ 1,3 milhão cada um. Pelo menos 13 deles registraram ocorrência na Polícia Civil e vão à Justiça tentar obter o pagamento e compensações pelo dano moral que sofreram. "A ação será contra a lotérica e também contra a Caixa, que responde solidariamente", adianta a advogada Josmari Peixoto.
A lotérica ainda não explicou o que houve. Funcionários da casa admitem a possibilidade de um erro humano, mas descartam que alguém possa ter agido de má-fé e refutam a desconfiança de alguns clientes que passaram a suspeitar que nenhuma aposta recolhida por "bolões" tenha sido feita. Levantam, como hipótese provável, a transcrição equivocada dos números ou para os comprovantes entregues aos clientes ou para a aposta efetivamente registrada na Caixa.
Em nota distribuída à imprensa, a Caixa destaca que "o comprovante emitido pelo terminal de apostas é o único documento que habilita o recebimento de prêmios" e promete que "a ocorrência será objeto de apuração". O texto também adverte que "caso se confirme a existência de irregularidade será aplicada a penalidade prevista nas normas internas, que podem ir de uma simples advertência até a revogação compulsória da permissão, de acordo com a gravidade do fato".
O episódio "fere de morte" a credibilidade da prática dos "bolões". Também evidencia a necessidade de supervisão e fiscalização para qualquer modalidade de jogo.
Na prática, talvez apostando no imponderável da sorte, muitas casas lotéricas tinham nos "bolões" uma fonte extra de renda. Não alcançados pela fiscalização, os "bolões" eram um território livre e solto. No jogo do bicho, proibido por lei, mas livre pela própria natureza, ainda subsiste uma mística de que "vale o que está escrito"... Nos "bolões" ficou agora constatado que o que estava escrito não valia nada...
Caberá agora à Justiça decidir quem paga o prejuízo. Mas, pelo menos, um "bode expiatório" já foi encontrado: uma pobre estagiária da casa lotérica, apontada à execração pública pelo seu patrão, que também se diz vítima, porque havia "bancado" três cotas que sobraram.
Já dizia o conselheiro Acácio que "onde existe cachorro e menino", adulto não leva culpa de nenhum "mal feito". Modernamente, nas empresas, os estagiários também são os "bodes" da vez...

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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@bol.com.br

2 comentários:

  1. Pensei que o redator iria fechar a matéria botando a culpa no Lula. Ou no prefeito Salinas, hêhêhê.

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  2. Cândido Aragão26/2/10 14:58

    Esse anônimo aloprado deve ser o mesmo que outro dia condenou o jornalista, apenas porque apontou as mazelas da falta DI gestão do atual prefeito de Salinas, cidade que demonstrou amar, mas que justamente por isso não quer que ela sofra ainda mais. Chegou até a apelar no estilo "as amargas, não ! Ora, ser amargo é querem misturar as bolas como no caso do golpe do bolão. O cronista, com sutileza, apenas aproveita um asunto do noticiário para dar-lhe mais vida com o tempero da imaginação criativa. Ora, seu anônimo amargo, por favor, afaste esse cálice de sua vida, que poderá ser bem melhor sem o "fel" dos ressentidos.

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