domingo, 20 de dezembro de 2009
Recesso indecoroso
A Imprensa nos tem mostrado diariamente fatos que se repetem e alguns inusitados. Chega dessa história de dizer que este é um país de futuro e que o brasileiro é bonzinho. A locução pode soar promissora, mas não passa da mais pura passividade. As semânticas dessas palavras podem constranger as pessoas que agem de maneira correta e honesta, e para outras podem produzir outros significados.
A diferença que existe entre os países onde há igualdade de direitos e justiça social e o Brasil é que naqueles os corruptos são substituídos do cargo e vão ver o sol nascer "quadrado", enquanto por aqui a Justiça reluta em aplicar a lei (que razões estariam submersas nessas águas turvas?) e os corruptos riem da nossa cara.
Quando se pensava que navegávamos em águas tranquilas e sob céu de brigadeiro, eis que um grupo de delinquentes, chefiados pelo primeiro magistrado do Estado, o governador José Roberto Arruda, e mais outro grupo de meliantes, alguns baseados na Corte, e outros apenas hospedados lá, nos brindam no tempo do Advento com esse presente infame.
Todavia, nós, eleitores, temos uma enorme parcela de culpa, pois pouco nos ocupamos no período eleitoral de uma análise mais detida dos candidatos que se apresentam e não raras vezes tratamos do assunto como coisa de somenos importância. Enquanto nós, eleitores, continuarmos a aceitar essa invasão de corruptos nos governando, isso não terá finidade.
Esse mensalão da Corte deixou-nos estarrecidos, e um saco de Papai Noel cheio de corrupção, propinas, impunidades, safadezas. Ademais, apesar da gravidade do escândalo de alguns políticos (um atavismo de responsa que já se incorporou nesses famélicos abutres) e outros transgressores. Tudo parece calmo, ficamos entorpecidos à semelhança de pessoas que padecem de transtornos emocionais, que toma mais um remédio para sua enfermidade.
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“Querem calar a Imprensa para que as transgressões, fraudes, corrupção e rapinagem dessa natureza fiquem na impunidade”
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Além disso, o que nos tem preocupado é a nossa capacidade de tolerância. Na Corte Distrital da chantagem, Arruda foi pilhado recebendo uma bolada indecente, e tenta manter-se no cargo ameaçando inimigos e até aliados. A chantagem, por sua vez, corre em silêncio. O governador do Distrito Federal não tem o mínimo escrúpulo. O corrupto causa apenas uma comoção momentânea. Depois passa. E pasmem, além de querer varrer o escândalo para debaixo do tapete - na maior cara de pau e no apagar das luzes, revista de circulação nacional afirma que aprovaram quase 1 bilhão para o orçamento de 2010, provavelmente para beneficiar empresários.
Na Corte, a Polícia Federal fez busca em todas as casas dos envolvidos e foi encontrada uma dinheirama que, a até para contar, sabido se atrapalha. O fato mais inusitado é que na casa do "pilantra da meia" o dinheiro foi parar junto da banheira, provavelmente para ser lavado.
Agora, tem uma "patotinha" que quer cercear a Imprensa livre e deixa bem claras suas posições, não deixando nenhuma dúvida quanto ao viés despótico. Ainda bem que tem gente de coragem em instância de decisão como a competente juíza Luciana Novakoski de Oliveira, da 2ª Vara Cível do Foro Regional de Pinheiros, em São Paulo, proferiu sentença que negou o pedido de indenização solicitado por Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, contra a Editora Abril e o jornalista Alexandre Oltramari. É com sensibilidade e atos desse quilate e posições assumidas em favor da liberdade de Imprensa e do Estado Democrático de Direito que a Justiça nos acena com esperança, fazendo-nos acreditar que nem só de impunidade, desonestidade e ausência de ética vive este País.
Querem calar a Imprensa para que as transgressões, fraudes, corrupção e rapinagem dessa natureza fiquem na impunidade. Contudo, a Procuradoria pede ao STJ a quebra dos sigilos bancário e fiscal de pessoas físicas e jurídicas investigadas na Operação Caixa de Pandora.
Enquanto isso, a Câmara Legislativa do DF, rapidinho, entrou em recesso, propiciando ao traquino Arruda e seus malfeitores tenham mais tempo para "bolarem" alguma esperteza para o ano que se aproxima. Tomara que a PF e a Justiça não permitam que manobras escusas venham a ser engendradas e deixem escândalos como esse sem uma punição exemplar.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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