Petistas – de todas as tendências, de todos os matizes, de todas as cores, inclusive o vermelho do PT – ingressaram na noite deste sábado (28) em alvoroço.
Em completo alvoroço.
O motivo: a manchete do Diário do Pará da edição deste domingo que começou a circular ainda no finalzinho da tarde de ontem.
A manchete, “Compra de votos agita eleições no PT”, remetia à matéria que está na página 3 do primeiro caderno do jornal.
É assinada por dois experientes repórteres: Carlos Mendes e Euclides Farias.
A reportagem informa, em resumo, que 20 dias antes das eleições do PT, realizadas na domingo passado, dois homens chegaram numa moto à sede da DS (Democracia Socialista), na travessa Mauriti, no justo momento em que lá se encontrava Birá.
Espécie de eminência das sombras do PT, ele é desconhecido do distinto público, mas muito – e ponha muito nisso – conhecido por dez entre dez petistas.
Birá, cujo nome é Jax Nildo Aragão Pinto, já foi devidamente apresentado aqui no blog.
Conheça-o um pouco.
Pois os dois homens chegaram à casa onde estava Birá e a invadiram anunciando um assalto.
Birá, segundo a matéria, estava no andar de cima, acompanhado de mais três pessoas e desceu com R$ 18 nas mãos, valor que supostamente foi obrigado a entregar aos bandidos.
Diz a reportagem que “os motoqueiros deixaram no ar a certeza de que a missão não era apenas desfalcar o caixa da DS, mas interromper uma fraude eleitoral”. A “fraude eleitoral” a que se referem os repórteres consistia, entre outras coisas, na compra de votos, quitação em massa de inadimplentes e filiação em massa de eleitores, confirmando denúncias publicamente feitas aqui no blog, na quinta-feira passada, por Almir Trindade, quarto colocado na eleição do PT para o Diretório de Belém.
PT Regional desconhece fraudes
O Espaço Aberto falou no início da noite deste sábado com o presidente reeleito do Diretório Estadual do PT, João Batista da Silva.
Ele acabara de ler a matéria quando falou por telefone com o repórter.
Assegurou que não tomou conhecimento do assalto.
Revelou, sim, ter tomado conhecimento, “por alto”, que um computador do vereador Marquinhos do PT – integrante da DS que tem seu escritório no mesmo imóvel onde teria ocorrido o assalto – sumira pouco antes das eleições. João Batista disse, entretanto, não ver qualquer vinculação entre esse fato e o assalto informado na matéria do Diário.
O presidente estadual garantiu que, no âmbito do Diretório Regional do partido, não existe qualquer recurso ou qualquer informação relacionada a qualquer suspeita de fraude ou cooptação de eleitores eventualmente ocorridos na eleição do PT Belém. Mas quando informado pelo blog que o candidato Almir Trindade protocolou formalmente um recurso relatando diversas irregularidades, João Batista da Silva admitiu que tal recurso poderá ainda estar tramitando no âmbito do Diretório Municipal, devendo posteriormente, se for o caso, subir à apreciação do Diretório Regional.
O presidente do PT, pelo menos até o início da noite de ontem, procurava contactar com o vereador Marquinhos do PT para buscar maiores informações e, conforme avaliações posteriores, divulgar uma nota esclarecendo a posição do Diretório Regional em relação à matéria divulgada pelo Diário.
O blog tentou várias vezes entrar em contato com o vereador Marquinhos do PT, mas não conseguiu.
O blog também tentou, em vão, falar com o vereador Adalberto Aguiar, presidente municipal do PT e terceiro colocado nas eleições de domingo passado.
Há perguntas que não querem calar
O Espaço Aberto apurou junto a algumas fontes – quatro, pelo menos – e obteve, de todas elas, a confirmação de que ouviram falar da ocorrência do assalto. E as fontes consultadas, sem exceção, asseguraram ter tomado conhecimento do assunto apenas na semana passada, depois, portanto, das eleições de domingo e muito depois do roubo dos R$ 18 mil, que teria sido consumado 20 dias antes do pleito, conforme menciona a reportagem.
Nenhuma das fontes soube acrescentar mais detalhes além daqueles mencionados na matéria assinada por Euclides Farias e Carlos Mendes. Confirmaram, todavia, o que os mais escolados em PT já sabem: que Birá é uma das eminências da DS que trabalham nos últimos tempos na Casa Civil do governo Ana Júlia.
Aliás, figuram entre os integrantes da DS tanto a governadora como seu chefe da Casa Civil, Cláudio Puty, que é pré-candidato a uma vaga de deputado federal na eleição do próximo ano.
As fontes ouvidas pelo blog também foram unânimes em fazer alguns questionamentos:
1 – De onde, afinal, provieram os R$ 18 mil que estariam em poder da DS?
2 – Em quê, afinal, seriam empregados os R$ 18 mil?
3 – Por que não foi feita nenhuma ocorrência policial?
4 – Como explicar o fato de dois motoqueiros, os supostos assaltantes, terem chegado à casa justamente no momento em que lá se encontrava Birá com os R$ 18 mil que seriam entreguem à dupla de bandidos?
São respostas que não querem calar.
Mas apenas a DS pode responder.
Irá respondê-las?
Estamos diante de um "assalto do bem"?
A reportagem assinada por Euclides Farias e Carlos Mendes contém um trecho que chama atenção.
O trecho se refere ao fato de que “os motoqueiros deixaram no ar a certeza de que a missão não era apenas desfalcar o caixa da DS, mas interromper uma fraude eleitoral”.
Seria, digamos, uma espécie de “assalto do bem”; ou “para o bem”.
Isso porque, se a motivação do crime incluía “interromper uma fraude eleitoral”, estamos diante de uma motivação claramente política.
Aliás, a reportagem tem como antetítulo “Watergate Paraense”, menção ao Caso Watergate, ocorrido na década de 70 do século passado, nos Estados Unidos, e que resultou na queda, por renúncia, do presidente republicano Richard Nixon.
Pois a motivação política, se realmente existiu, implicaria fatalmente outras tendências petistas adversárias da DS no pleito.
Isso é uma inferência lógica, uma vez que só teria interesse em evitar a continuidade de uma suposta fraude os prejudicados diretos, no caso, as tendências que tinham candidatos disputando com a candidata da DS, a secretária da Sedurb, Suely Oliveira.
Ou será que estariam interessadom em “interromper a fraudes eleitoral” no PT Belém gente como Ronaldo Fenômeno, Adriano Imperador (do Flamengo), o presidente do Íbis (o pior time do mundo) ou mesmo Fernandinho Beira-Mar?
Claro que não.
De outro lado, se fosse um crime comum, por que não foi registrado formalmente na polícia? Não se abre mão de R$ 18 mil assim de forma tão banal, tão natural. Sobretudo se os R$ 18 provieram de fonte lícita e à custa de muito esforço.
São perguntas, são indagações, são detalhes que precisam ser esclarecidos.
Somente a DS poderá fazê-lo.
Mas não se conseguiu, pelo menos até agora, falar com ninguém da DS.
Nem mesmo – e sobretudo – o Diário do Pará.
“Eleitoralismo” dominou o PED
O blog também conversou com dois petistas, ambos históricos e muito ponderados e francos em suas avaliações.
Os dois mostraram-se desolados com as práticas observadas no pleito do PT, que o partido denomina de Processo de Eleição Direta (PED).
Reconheceram que o “eleitoralismo”, configurado em práticas as mais espúrias, passou a dominar o processo de renovação dos comandos petistas nos Estados e municípios.
Admitiram que o PED é uma experiência válida e única entre os partidos brasileiros, mas precisa ser reexaminada, rediscutida e reavaliada criticamente, para que seja expurgada de vícios que rebaixam a disputa eleitoral interna ao rés do chão – bem ao rés mesmo.
Afirmaram que nestas últimas eleições para o Diretório do PT Belém todos os candidatos – uns mais, outros menos - incorreram em práticas incondizentes com os princípios éticos que o PT sempre defendeu.
E observaram que a DS, por sua natural proximidade com o poder, passa por um processo de inchamento, que acaba sendo decorrência de adesões em massa. E adesistas em massa, concordaram os dois petistas, não passam mesmo de meros adesistas, muitos deles carreiristas, arrivistas, gente que só quer se “dar bem”, ao contrário dos verdadeiros militantes, que dão organicidade a qualquer agremiação política.
Essa esquerda brasileira não toma vergonha na cara!!!
ResponderExcluirEra só o que faltava: o Mensalinho intramuros!!!
Bemerguy,
ResponderExcluirvá fundo nessa história. tem coisas escabrosas. esses petistas são um perigo quando estão no poder.
O PT acabou. Posturas desse tipo eram impensáveis nos idos anos 80 e 90. Nada mais diferencia o PT de outros partidos eleitoreiros de direita. Nada.
ResponderExcluirO pior, é que o PT acabou também com sonhos, projetos, esperanças, lutas organizadas por causas legítimas, e um enorme leques de entidades, organizações sociais que circulavam em torno do PT e suas lideranças, antes populares.
A perda do PT é um fato de dimensões trágicas para o povo da brasileiro.
A sociedade organziada precisa virar essa página e recomeçar, de novo, do zero.
recomeçar com que partido?
ResponderExcluirvamos todos para o PSOL e/ou PSTU!!!!
ResponderExcluirRecomeçar sem partidos... investindo em movimentos sociais que não tenham pretensões eleitoreiras, mas o desejo de transformar a realidade sem ocupar cargos executivos e legislativos... criar e reforçar o controle social sobre as instituições me parece mais relevante, nos dias de hoje, que eleger novos candidatos a corruptos... eu voto nulo nas próximas eleições.
ResponderExcluirO PT no Pará ficou assim por causa dessa DS da Governadora.
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