sábado, 28 de novembro de 2009

Benjamin diz mesmo a verdade?

Os que leram – e os que lerem – muito provavelmente não contiveram a estupefação.
Pelos detalhes.
Pelas minúcias.
Pela precisão com que os fatos são narrados.
Por se tratar de quem os contou.
De que se trata?
Trata-se de artigo publicado na Folha de S.Paulo desta sexta-feira (29).
Nele, é feita uma análise do filme “Lula, o Filho do Brasil”, em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o personagem principal (na foto, uma das cenas da fita).
No artigo, uma revelação: a de que Lula, quando esteve preso em 1980, teria tentado violentar sexualmente – e não estuprar, como tem sido dito, porque estupro só pode ser praticado contra mulher - um colega de cela, descrito como “menino do MEP”.
Quem faz a revelação?
Quem conta?
Quem precisa os detalhes?
César Benjamin, 55 anos.
Ele não é um qualquer.
Vejam quem é, segundo descrição que a Folha traz:

César Benjamin, 55, militou no movimento estudantil secundarista em 1968 e passou para a clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano, juntando-se à resistência armada ao regime militar. Foi preso em meados de 1971, com 17 anos, e expulso do país no final de 1976. Retornou em 1978. Ajudou a fundar o PT, do qual se desfiliou em 1995. Em 2006 foi candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, do qual também se desfiliou. Trabalhou na Fundação Getulio Vargas, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira. É editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.

Este é César Benjamin.
Faltou dizer o seguinte: que Benjamin tem ódio no coração ao PT.
Ao PT de Lula.
É um ponto que não pode ser desconsiderado.
Outro detalhe: por que a história vem a público agora, cerca de três décadas depois?
Pode-se dizer que tudo tem a ver com a intenção explícita no texto, de fazer o contraponto com a mal disfarçada intenção do filme, que é mitificar a figura de Lula.
Mais um detalhe: segundo já informou o Palácio do Planalto, o publicitário Paulo de Tarso, um dos mencionados no artigo de Benjamin, desmentiu a veracidade da história.
Afinal, Benjamin estará dizendo a verdade?
Terá mentido totalmente?
Terá mentido parcialmente?
E cadê o “menino do MEP”, que teria sido alvo da tentativa de agressão sexual do hoje presidente da República? Ninguém sabe, ninguém viu; aliás, provavelmente ninguém jamais o verá.
Cadê o americano mencionado na história de Benjamin? Não é estranho que o autor do artigo não se lembre de seu nome, consideradas as circunstâncias em que tudo se passou?
São estranhezas e aspectos que precisam ser considerados nesta história.
Mas, entre tantas estranhezas, registre-se mais uma: segundo o Blog do Noblat, o chefe do Gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, não apenas desmentiu os fatos contados por César Benjamin como assegurou que o Palácio do Planalto não pretende processá-lo.
“Não vamos dar a mínima importância (ao episódio). Vamos nos sujar se fizermos isso. Quando a coisa é séria a gente reage. Quando não é (ignoramos)", disse Carvalho, segundo Noblat.
Esperem aí.
Lula é o presidente da República Federativa do Brasil.
Está sendo acusado de uma conduta criminosa. E grave, mesmo que revelada quase 30 anos depois. E degradante, mesmo quase 30 anos depois.
Isso tudo vai ficar por isso mesmo?
Enquanto vocês decidem, leiam abaixo o trecho do texto de César Benjamin publicado na “Folha de S.Paulo”.
Para ler a íntegra, cliquem aqui.

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São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.
Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.
Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.
Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".
Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.
Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.
O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu.
Dias depois de ter retornado para a solitária, ainda na PE da Vila Militar, alguém empurrou por baixo da porta um exemplar do jornal "O Dia". A matéria da primeira página, com direito a manchete principal, anunciava que Caveirinha e Português haviam sido localizados no bairro do Rio Comprido por uma equipe do delegado Fleury e mortos depois de intensa perseguição e tiroteio. Consumara-se o assassinato que eles haviam antevisto.
Nelson, que amava os Beatles, não conseguiu ser o rei do Senegal: transferido para o presídio de Água Santa, liderou uma greve de fome contra os espancamentos de presos e perseverou nela até morrer de inanição, cerca de 60 dias depois. Seu pai, guarda penitenciário, servia naquela unidade.
Neguinho Dois também morreu na prisão. Sapo Lee foi transferido para a Ilha Grande; perdi sua pista quando o presídio de lá foi desativado. Chinês foi solto e conseguiu ser contratado por uma empreiteira que o enviaria para trabalhar em uma obra na Arábia, mas a empresa mudou os planos e o mandou para o Alasca. Na última vez que falei com ele, há mais de 20 anos, estava animado com a perspectiva do embarque: "Arábia ou Alasca, Devagar, é tudo as mesmas Alemanhas!" Ele quis ir embora para escapar do destino de seu melhor amigo, o Sabichão, que também havia sido solto, novamente preso e dessa vez assassinado. Não sei o que aconteceu com o Formigão e o Ari Navalhada.
A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o "menino do MEP". Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.
O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.
Mesmo assim, não pretendo assistir a "O Filho do Brasil", que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.

8 comentários:

  1. Tentar comer um sujeito na prisão, tomando soco e pontapé, numa cela, dificilmente ficaria um segredo entre dois. Talvez ao inventar a história, o César Benjamin esteja projetando uma fantasia do mundo gay, que ele conhece bastante.
    Se ele pensava que ao publicar essa invencionice iria causar uma comoção nacional, errou. Sua conduta apenas demonstrou a altura moral a que foi reduzido. Nem os comparsas dele no PSOL fizeram referência a canalhice que escreveu.

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  2. Senhor editor isso nada mais é do que dor de cotovelo e nada mais,protagonizada por um intelectual de merda....Digo mais...não sou do PT.

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  3. O cara é corajoso. Assina em baixo o que escreve.
    Pena que o anônimo das 10:20 não tenha feito o mesmo quando escreveu que ele é um "intelectual de merda".
    Outra: será que o anônimo estava lá para saber de isso de fato ocorreu?

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  4. que notícia feia!

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  5. É incrível como alguém explora uma degradação dessa (aliás, comum nas prisões, sejam os porões da ditadura, quando cidadãos respeitáveis passaram por todo tipo de condição desumana, ou os PENs de hoje), num artigo na Folha, sem um mínimo de seriedade, sem qualquer dado mais concreto, que permita formar opinião. Lamentável a divulgação de um asunto com essa dose de irresponsabilidade, fosse o protagonista qualquer cidadão comum; beira as raias da ignomínia, tratando-se de um presidente.

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  6. Meu Deus, o cara pode matar, estripar, beber sangue, e o diabo a quatro, e nada pega com ele, assim como não pegou no mensalão, nos aloprados, no rombo nas estatais e fundos de pensão, na doação da Telemar pro Lulinha, no marido da Lurian, e outras coisitas mais? Definitivamente, o Brasil, neste governo, abdiciou de qualquer senso moral.

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  7. Realmente esse senhor Bejamim agora que se manifesta, tantas oportunidades inclusive na campanha de Lula. Fala, fala, mas não prova, não sabe nem o nome do americano que passou dias com ele? como acreditar? tudo leva a crer que quer aparecer, será que é candidato?

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