domingo, 30 de agosto de 2009
Um preço muito alto
Nunca um ditado popular esteve em alta como agora: "Manda quem pode, obedece quem tem juízo". Algumas figuras importantes da política começaram a trabalhar no teatro de marionetes, e não se trata de ficção. Mãos certeiras e habilidosas manipulam esses fios invisíveis e não poderia ser ninguém que não fosse o Nosso Guia.
Ultimamente, o criador tem se utilizado da taxidermia e expõe seus troféus para que todos vejam quem manda. Entre muitos, está o do senador Aloizio Mercadante. Nosso Guia assume nos bastidores o comando do fragilizado e fragmentado PT, lidera a operação para salvar o senador José Sarney de investigação e tira o pouco de musculatura que ainda restava da agremiação.
Como bom taxidermista, Nosso Guia o obrigou a encenar o teatro de salvar a pele de um inimigo histórico do partido, o presidente do Senado, fazendo o mesmo papel de guarda-costas desempenhado com todo esmero por Fernando (Indiana) Collor e o "notável" Renan Calheiros, que dispensam apresentações.
Todos sabem que partiu do presidente Lula - para o presidente representa tranquilidade nesses momentos de turbulências na Corte - a ordem para poupar Sarney a qualquer custo no Conselho de Ética do Senado, mesmo que esse custo fosse a implosão do que ainda restava de pudor nas fileiras petistas.
Nosso Guia reduziu moralmente seu partido ao abrir mão de aliados históricos, como foi o caso da senadora acreana, Marina Silva, que deixou o PT por discordar dos caminhos trilhados; o outro foi o senador Flávio Arns, que disse: "Me envergonha estar no Partido dos Trabalhadores. O partido pegou a folha da ética e jogou no lixo"; o presidente Lula certamente tem em mente um plano auspicioso (coisas de Caminho das Índias). Penoso será convencer as pessoas de como algo que se imagina virtuoso possa passar pela salvação do dândi maranhense.
Por outro viés, o governo precisa do PMDB para viabilizar seu projeto de poder. É exatamente aí que aparece a fatura pesada. Se para passar recibo for preciso fazer alguns sacrifícios, como defender corruptos ou enfraquecer a agremiação que levou Nosso Guia ao poder, segue-se em frente, sem o mínimo constrangimento.
Apreensivo, Nosso Guia determinou a Ricardo Berzoini, presidente do PT e o seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, que levassem a seguinte ordem ao senador Aloizio Mercadante, líder do partido no Senado: "É para salvar Sarney".
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“Todos sabem que partiu do presidente Lula - para o presidente representa tranquilidade nesses momentos de turbulências na Corte - a ordem para poupar Sarney a qualquer custo no Conselho de Ética do Senado, mesmo que esse custo fosse a implosão do que ainda restava de pudor nas fileiras petistas.”
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Embora tenha sido exitosa, a missão não era simples. Os senadores do PT estavam entre a cruz e a espada, ou seja, entre a lealdade ao presidente e a própria sobrevivência política. A maioria não tinha problemas de consciência em absolver Sarney, mas temia se desgastar junto à opinião pública. Será? Pesquisa feito pelo instituto Datafolha, 70% dos brasileiros querem vê-lo fora do comando do Senado.
Se essa votação fosse aberta, muitos teriam vergonha e alguns votos de petistas levariam Sarney ao cadafalso. Diante de tantos problemas e um vergonhoso troca-troca, havia, porém, outro problema. O líder Mercadante já tinha dito publicamente que não patrocinaria nenhuma manobra para salvar Sarney. Para evitar humilhações, inventaram uma "viagem" para Mercadante ao exterior (Uruguai), até que ele topou, para em seguida voltar atrás. Concluiu que a manobra o desgastaria perante seu eleitorado.
A quebra do acordo irritou o Nosso Guia, e o PT que sentiu na decisão de Mercadante cheiro de traição e de uma indesejada rebelião no partido. Uma tropa de choque comandada por José Dirceu usando de todos os meios, inclusive a ameaça como argumento. Mercadante ameaçou, esperneou e no rol de tantas humilhações o PT enquadrou Mercadante. Continuará liderando a tropa petista sobre a qual ele já não exerce liderança alguma.
No mais, na coluna de Ancelmo Gois, em O LIBERAL, ele diz que as paredes do Palácio do Planalto têm ouvido. Lula confidenciou a interlocutores que, na conversa com Mercadante, foi direto ao ponto: "Nunca vi um líder renunciar. Quem é líder lidera". Que tal? A humilhação pagou um preço muito alto.
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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com
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