quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Este Natal
— Este Natal anda muito perigoso — concluiu João Brandão, ao ver dois PM travarem pelos braços o robusto Papai Noel, que tentava fugir, e o conduzirem a trancos e barrancos para o Distrito. Se até Papai Noel é considerado fora-da-lei, que não acontecerá com a gente?
Logo lhe explicaram que aquele era um falso velhinho, conspurcador das vestes amáveis. Em vez de dar presentes, tomavaos das lojas onde a multidão se comprime, e os vendedores, afobados com a clientela, não podem prestar atenção a tais manobras. Fora apanhado em flagrante, ao furtar um rádio transistor, e teria de despir a fantasia.
— De qualquer maneira, este Natal é fogo — voltou a ponderar Brandão, pois se os ladrões se disfarçam em Papai Noel, que garantia tem a gente diante de um bispo, de um almirante, de um astronauta? Pode ser de verdade, pode ser de mentira; acabou-se a confiança no próximo.
De resto, é isso mesmo que o jornal recomenda: "Nesta época do Natal, o melhor é desconfiar sempre”.Talvez do próprio Menino Jesus, que, na sua inocência cerâmica, se for de tamanho natural, poderá esconder não sei que mecanismo pérfido, pronto a subtrair tua carteira ou teu anel, na hora em que te curvares sobre o presépio para beijar o divino infante.
O gerente de uma loja de brinquedos queixou-se a João que o movimento está fraco, menos por falta de dinheiro que por medo de punguistas e vigaristas. Alertados pela imprensa, os cautelosos preferem não se arriscar a duas eventualidades: serem furtados ou serem suspeitados como afanadores, pois o vendedor precisa desconfiar do comprador: se ele, por exemplo, já traz um pacote, toda cautela é pouca. Vai ver, o pacote tem fundo falso, e destina-se a recolher objetos ao alcance da mão rápida.
O punguista é a delicadeza em pessoa, adverte-nos a polícia. Assim, temos de desconfiar de todo desconhecido que se mostre cortês; se ele levar a requintes sua gentileza, o melhor é chamar o Cosme e depois verificar, na delegacia, se se trata de embaixador aposentado, da era de Ataulfo de Paiva e D. Laurinda Santos Lobo, ou de reles lalau.
Triste é desconfiar da saborosa moça que deseja experimentar um vestido, experimenta, e sai com ele sem pagar, deixando o antigo, ou nem esse. Acontece — informa um detetive, que nos inocula a suspeita prévia em desfavor de todas as moças agradáveis do Rio de Janeiro. O Natal de pé atrás, que nos ensina o desamor.
E mais. Não aceite o oferecimento do sujeito sentado no ônibus, que pretende guardar sobre os joelhos o seu embrulho.
Quem use botas, seja ou não Papai Noel, olho nele: é esconderijo de objetos surrupiados. Sua carteira, meu caro senhor, deve ser presa a um alfinete de fralda, no bolso mais íntimo do paletó; e se, ainda assim, sentir-se ameaçado pelo vizinho de olhar suspeito, cerre o bolso com fita durex e passe uma tela de arame fino e eletrificado em redor do peito. Enterrar o dinheiro no fundo do quintal não adianta, primeiro porque não há quintal, e, se houvesse, dos terraços dos edifícios em redor, munidos de binóculos, ladrões implacáveis sorririam da pobre astúcia.
Eis os conselhos que nos dão pelo Natal, para que o atravessemos a salvo. Francamente, o melhor seria suprimir o Natal e, com ele, os especialistas em furto natalino. Ou — idéia de João Brandão, o sempre inventivo — comemorá-lo em épocas incertas, sem aviso prévio, no maior silêncio, em grupos pequenos de parentes, amigos e amores, unidos na paz e na confiança de Deus.
(14-12-1966)
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Texto extraído do livro "Caminhos de João Brandão", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1970, pág. 84.
Não há prova mais inequívoca da presença do menino Jesus em nossos corações do que o verdadeiro espírito natalino que nos envolve e incorpora. Nestes dias, nos deparamos e participamos de tantas ações de solidariedade, provocadas pela tristeza que nos bate a porta. Representada pela fome, miséria, injustiças, maldades, angústias, violência, egoísmo e sede. Sede de uma vida plena de dignidade. E, no tempo natalino, nos sentimos responsáveis pelo resultado dessa manifestação humana, e resolvemos pensar e agir, para minorar as conseqüências. Mas é preciso nos darmos conta de que às nossas portas essas agruras se apresentam diariamente. E ficamos inertes, cegos, fechados em nossos individualismos. Faço votos para que, doravante, escancaremos nossas portas, e façamos do nosso dia-a-dia uma dádiva aos nossos semelhantes, compartilhando o pouco ou muito do que temos. Não tenhamos a presunção de que poderemos salvar a todos, mas saibamos alastrar as bençãos trazidas pelo menino Jesus aos nossos corações, compartilhando nossos frutos materiais e espirituais, enquanto tivermos saúde e força de vontade para agirmos. Dividindo, nos enriqueceremos desse espirito divino.
ResponderExcluirCOM AS BENÇÃOS DO MENINO JESUS, E O VERDADEIRO ESPÍRITO NATALINO, DESEJO A VOCÊ, AOS SEUS, E A TODOS QUE ACOMPANHAM ESTE BLOG, UM EXCELENTE NATAL E UM MARAVILHOSO ANO DE 2009
Anônimo, sua mensagem é comovente.
ResponderExcluirFeliz Natal para você e seus familiares.
Todas as bênçãos do mundo.
Abs.