terça-feira, 11 de novembro de 2008

Promotor quer novo inquérito

No AMAZÔNIA:

O Ministério Público vai protocolar hoje, em Altamira, Oeste do Pará, o pedido de um novo inquérito na Polícia Federal (PF) sobre a morte da missionária Dorothy Stang. O pedido é para um inquérito específico que apure se Regivaldo Pereira Galvão, acusado de ser o principal mandante do crime, tem alguma ligação de propriedade com o lote 55, área na qual Dorothy lutava para implantar o PDS Esperança. A nova investigação também deverá responder se de fato houve a tentativa de Galvão junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para fazer a doação de parte do lote, conforme afirmaram as freiras Rebeca Spires e Julia Depweg, – que trabalharam durante três décadas com Dorothy Stang. Segundo as irmãs, um documento recebido por elas no final da tarde de sexta-feira, que seria a ata de uma reunião no Incra, comprova essa tentativa de negociação da terra, que neste caso é pública.
O procurador Alan Mansur, de Altamira, explica que o resultado dessa investigação pode trazer esclarecimentos sobre o assassinato da irmã Dorothy, já que o principal argumento da defesa de Regivaldo Galvão é de que, por não ter qualquer ligação com o lote 55, não teria motivações para mandar matar a missionária. Até então Galvão sempre sustentou que o lote 55 pertencia ao fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, condenado sob acusação de ser o outro mandante do crime. O novo inquérito deverá ouvir novamente Galvão, as freiras, o Incra e todos que possam esclarecer a propriedade do lote 55 e se Galvão realmente tentou fazer uma nova negociação de terras públicas.
O documento apresentado pelas freiras Rebeca e Julia indicaria que Galvão, ao contrário do que vem afirmando desde 2004, mantém o controle do lote e, portanto, segundo as freiras, teria motivos para encomendar o assassinato. Na tentativa junto ao Incra de fazer a doação, ele pediu, em troca,autorização para colocar gado na outra porção da terra que ficaria sob seu controle. As freiras também tentam provar que os comprovantes de compra e venda do lote 55 entre Galvão e Bida vão de encontro ao que está registrado na ata da reunião do Incra. As religiosas afirmam que os documentos são contraditórios e que o lote nunca pertenceu de fato ao fazendeiro Bida.
As duas freiras, que conviveram por três décadas com a irmã Dorothy, afirmam que ela estaria incomodando fazendeiros envolvidos em esquemas de falsificação de documentos e situações de conflitos por conta da posse e exploração da terra na região. Elas reforçam as acusações também contra Bida, afirmando que embora ele não morasse no lote 55 e seu nome só tenha aparecido após a denúncia contra Galvão, Bida é conhecido na região 'por ter dado fim a muita gente' e, por esse motivo, teria sido contratado por Galvão para orquestrar o crime contra a missionária.
Dorothy Stang foi morta em 12 de fevereiro de 2005, com seis tiros, no município de Anapu, a 300 quilômetros de Belém. Ela era integrante da da Comissão Pastoral da Terra e trabalhava intermediando o diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções para os conflitos relacionados à terra na região.

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