segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Lula faz aposta dupla para 2010

No Blog do Noblat

Deus e o mundo estão carecas de saber que Lula escolheu sua candidata à presidência da República em 2010 – Dilma Rousseff, atual ministra da Casa Civil.
Pois da semana passada para cá, parte do PT passou a desconfiar que Lula também escolheu seu candidato – José Serra (PSDB), governador de São Paulo, líder das pesquisas de intenção de voto.
Por R$ 5,38 bilhões, o Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa ao governo de São Paulo e detonou uma chiadeira dentro do PT. “Serra vai fazer a festa com todo esse dinheiro e a menos de dois anos da eleição presidencial”, lamenta uma cabeça coroada do PT paulista.
“Nesse caso, pelo menos, o presidente soube distinguir entre os interesses do seu partido e os interesses do governo”, agradece o deputado Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, que apóia a candidatura de Serra à sucessão de Lula.
A compra da Nossa Caixa foi um bom negócio para os dois governos. Foi bom para o paulista porque o natural, mais dia, menos dia, era que ele deixasse de ser dono de banco – como outros Estados deixaram.
A crise econômica mundial, que começou como uma crise dos bancos norte-americanos, reduzirá a arrecadação dos governos. Há pouco, Serra foi forçado a dar um aumento de salário às polícias militar e civil que até o fim do seu mandato custará algo como R$ 3 bilhões – mais da metade do valor da Nossa Caixa.
De resto, o dinheiro desembolsado pelo Banco do Brasil será dividido em 18 parcelas. Não dará tempo para que Serra realize com ele grandes obras.Uma linha do metrô paulista, por exemplo, tem em média 16 quilômetros. Leva-se 10 anos para construir uma.
O negócio foi bom para o governo federal porque deixou o Banco do Brasil mais próximo do topo no ranking dos bancos nacionais. Ele terá R$ 512,304 bilhões em ativos, ainda atrás do Itaú-Unibanco que vale R$ 575,119 bilhões, mas à frente do Bradesco (R$ 422,7 bilhões).
Nem por isso deixa de fazer sentido a desconfiança de parte do PT. São antigas e quase sempre foram boas as relações entre Lula e Serra. Elas sobreviveram ao teste da eleição de 2002 quando os dois disputaram a vaga de Fernando Henrique Cardoso.
Na época em que montava seu governo, Itamar Franco pediu a Fernando Henrique que procurasse Lula em seu nome. Itamar queria que o PT indicasse alguns ministros. Lula recusou a oferta, mas sugeriu o nome de Serra para ministro da Fazenda.

Foi o próprio Lula que me contou essa história, confirmada depois por Serra. “Fernando Henrique boicotou a ida de Serra para a Fazenda”, disse-me Lula.
Serra lembra que foi chamado por Itamar e que conversou com ele duas vezes. Depois, segundo Serra, Itamar comentou assim com Fernando Henrique: “Serra me deixou uma boa impressão. Mas ele é melhor para ser presidente do que para ser ministro, e o presidente sou eu”. Itamar escolheu para ministro da Fazenda Gustavo Krause, deputado do PFL de Pernambuco.
Uma vez derrotado por Lula em 2002, Serra viajou para descansar no exterior. Mas de lá, por telefone, deu palpites na formação do governo. O destinatário de suas ligações era o então deputado federal pelo PT de Brasília Sigmaringa Seixas, amigo íntimo dele e de Lula.
Sigmaringa é capaz de jogar futebol de manhã com Lula na Granja do Torto e de jantar sozinho à noite com Serra no Palácio dos Bandeirantes. “Os dois se dão bem, mas são adversários políticos”, desconversa Sigmaringa.
Fernando Henrique encarou a própria sucessão em 2002 com dois candidatos: Serra e Lula. Se Serra vencesse, melhor. Se o vencedor fosse Lula, ele ganharia na presidência um amigo de longa data. A arenga entre os dois não passa de arenga.
Dilma é a candidata ideal para Lula. Caso vença, a ele se atribuirá a eleição de um poste. Caso perca foi o poste que perdeu.
De Serra ninguém ouviu até hoje uma palavra áspera contra Lula. Dilma e Serra são a garantia de uma disputa civilizada – e para Lula amena.

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