segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Lula quer PF na apuração de autoria de grampo no STF

Na FOLHA DE S.PAULO:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinará hoje que a Polícia Federal investigue o grampo ilegal de conversa entre o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Essa decisão será comunicada por Lula a Mendes, em reunião de emergência marcada para as 9h de hoje no Palácio do Planalto.
Segundo a Folha apurou, Lula está disposto a discutir uma forma de o STF acompanhar a investigação. O inquérito irá apurar o suposto envolvimento de agentes secretos da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e de investigadores da própria PF, como acusa reportagem publicada na edição da revista "Veja" desta semana.
Lula pretende, assim, responder à cobrança pública feita pelo presidente do STF, que disse que chamaria o presidente da República "às falas". Um ministro de Lula disse que Mendes "passou do ponto" ao anunciar que exigiria uma resposta do governo e se referir assim ao presidente.
Irão ao Planalto, além de Mendes, o vice-presidente do STF, Cezar Peluso, e o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Carlos Ayres Britto, também ministro do Supremo. Será dito que só uma investigação rigorosa, que aponte autores e mandantes do suposto grampo, será capaz de evitar uma crise institucional.
Lula também convocou para a reunião os ministros Tarso Genro (Justiça) e Nelson Jobim (Defesa). "Tem que haver necessariamente uma investigação. A gravação houve, e isso é muito grave", disse Jobim.

Reunião no Supremo
Às 16h, os ministros do STF se reunirão em conselho, a portas fechadas, para discutir o episódio. Encontros como este raramente são convocados. Muitos precisaram reagendar compromissos para estar em Brasília na tarde de hoje. "Vamos refletir sobre o que está acontecendo e adotar uma postura de serenidade, buscando dias melhores. A bisbilhotice passou a ser generalizada", disse o ministro do STF Marco Aurélio Mello, que acredita ter sido alvo de escutas ilegais.
A ordem para a abertura de inquérito policial foi transmitida sábado à tarde a Tarso Genro, que estava em Recife. Pouco antes de determinar que a PF entrasse no caso, Lula e Mendes também se falaram por telefone. Lula chamou o presidente do STF para uma conversa pessoal, o que levou Mendes a cancelar ida à Coréia do Sul, onde faria palestra.
A entrada da PF no caso é a única medida que o governo avalia ser possível tomar neste momento. Por ora, está descartada eventual demissão do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda. Lula e seus principais auxiliares não acreditam que ele tenha ordenado ou participado do suposto grampo.
A PF deverá pedir à revista "Veja" a gravação da conversa entre Mendes e Demóstenes para averiguar se foi feita por aparelho da polícia. Segundo o governo, é possível descobrir se a gravação foi feita pelo sistema "Guardião" durante as apurações da Operação Satiagraha, realizada pela PF com a ajuda da Abin e que levou para a prisão o banqueiro Daniel Dantas.
A Abin iniciará nesta semana investigação interna para apurar se houve envolvimento de funcionários da agência.
Ao saber dos grampos, Mendes cobrou providências de Lula. Apesar de assessores terem achado a reação exagerada, um ministro de Lula disse que ele tem boa relação com Mendes e não levaria em conta uma "reação emocional".

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