quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Descaracterização impiedosa do Largo do Rosário

O fotógrafo e professor Mariano Klautau Filho escreve uma carta com o título acima, que O LIBERAL publica em sua edição de hoje.
É um alerta.
Um grito de alerta contra mais uma agressão ao patrimônio histórico de Belém.
Um alerta que deve ser ouvido urgentemente por quem detenha competências para conter essa agressão.

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Belém assiste impassível a mais um pequeno grande delito contra o seu patrimônio. Na esquina da rua Aristides Lobo com a travessa Padre Prudêncio, bem em frente ao Largo do Rosário, que abriga casas centenárias e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, está sendo construído um paredão assombroso que ultrapassa todos os limites estabelecidos pelo gabarito que regulamenta a altura dos prédios históricos do bairro.
O paredão em forma de caixote surge por trás de um conjunto, mesmo que em ruínas, harmônico com a ambiência do largo. Este conjunto de ruínas é formado por restos de fachadas de residências do início do século XX, uma mercearia dos anos 40 e outras mais que indicam pequenas edificações de estilos variados que vão da arquitetura do século XVIII até o Art Deco. Um olhar mais sensível captaria essa nuances e verificaria que há uma história ali a ser contada e pedindo por uma intervenção, recriação, adaptação ou qualquer idéia que viesse resgatar de modo criativo aquele pequeno conjunto.
O Largo do Rosário é um singelo e importante recanto do patrimônio, por ter em seu entorno casas preservadas, praça bem cuidada e uma igreja tombada pelo patrimônio histórico e que traz em seu projeto arquitetônico uma forte possibilidade da marca deixada por Antonio Landi na sua fachada. Portanto, é inadmissível que seja permitida a construção de uma caixa, de gosto duvidoso de concreto e tijolo, com altura de um prédio de mais de três andares sem nenhuma placa de identificação, há poucos metros da Igreja do Rosário. Como esta obra foi permitida pelo Iphan, já que a igreja está na esfera federal? Quanta irresponsabilidade do Iphan que vem cometendo equívocos nos últimos anos pelo seu silêncio assustador!
A própria obra, da qual não sabemos a origem, poderia achar soluções de adaptação e aproveitamento das ruínas e manter o que está garantido na lei. A praça do Rosário recebeu um presente neste ano, a restauração de um sobrado residencial pelo Programa Monumenta de Preservação do Patrimônio Histórico Brasileiro. E está levando um "soco no estômago" com a construção desta coisa que não sabemos o nome, na mesma esquina em frente ao sobrado reformado. Sou morador da praça e acredito que mereço informações das instituições de patrimônio Iphan, Dephac e DPH sobre este crime contra a cidade.

Mariano Klautau Filho
Fotógrafo e professor

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