segunda-feira, 25 de agosto de 2008

No ar, o discurso para um lado, os gestos para outro

Sinceramente, se há alguém que deve sofrer com campanha eleitoral não é o eleitor, que se vê exposto diante de tanta bobagem, diante de tanta coisa caricata produzida por quem aspira a um cargo público. O eleitor que não gosta disso tem o pleno direito e a plena possibilidade de desligar a televisão e o rádio.
E os responsáveis pela condução, pela direção dos programas eleitorais? Eles, sim, devem passar por grandes constrangimentos de nada poderem fazer para melhorar a performance de gente que, posta diante de uma câmera, infelizmente não consegue se comunicar. E estabelece com o veículo da informação uma intimidade tão grande como a de um súdito inglês com Sua Majestade a rainha Elizabeth. Ou seja: nenhuma intimidade.
Como deve ser constrangedor para publicitários e marketeiros dirigirem candidatos que não sintonizam seus discursos e suas emoções com os gestos que fazem. O resultado disso é engraçadíssimo – para quem assiste, claro, mas certamente não é nada engraçado para as equipes que dirigem e produzem os programas.
É engraçadíssimo ver candidatos com os punhos fechados, fazendo aquele movimento para cima e para baixo, para emprestar uma aparência de energia, de convicção – ou seja lá o que for – ao seu discurso.
O problema é que os punhos fechados para cima e para baixo não combinam, não se harmonizam, não se sintonizam com o discurso, com o tom de voz, com a empostação, com nada.
O resultado fica muito parecido com a história daquele – ou daquela – colegial que, numa data magna comemorada em sua escola, vai muito nervoso declamar aqueles versinhos básicos que a fessora ensinou. E aí começa, nervosíssimo – ou nervosíssima:
- Neste céu, neste mar...
Mas os gestos que ele, o declamador, faz durante a declamação apontam para o chão quando diz “neste céu” e para o alto quando diz “neste mar”. Em vez de chorarem de emoção, os espectadores choram é de tanto rir.
Assim com as estrelas do Horário Eleitoral Gratuito. Não todos, mas muitos deles nos divertem a ponto de chegarmos a lagrimar de tanto rir.
O pessoal da redação aqui do Espaço Aberto infelizmente não tem encontrado tempo para assistir, nos dias úteis, aos programas pela TV. Só pode assisti-los com mais atenção aos sábados e domingos. Mas tem achado engraçadíssimo.
Ainda bem: é preciso encontrar um bom motivo para suportar o Horário Eleitoral Gratuito. Aqui está um: rirmos diante do caricato.
O problema – gravíssimo problema – está em que mutiso daqueles que nos fazem rir, por caricatos, chegarão a exercer mandatos eletivos. E o fato de exercentes de mandatos eletivos não se comunicarem bem não chega a ser propriamente engraçado.
Enfim, a solidariedade irrestrita – pelo menos aqui do pessoal do blog - aos marketeiros, que não têm, como nós, a faculdade de desligar a televisão e o rádio. E não têm sequer a possibilidade de rir abertamente – a não ser por trás das portas do estúdio – dos discursos, dos gestos, do visual e do caricato que tantos candidatos personificam.
Mas é assim. Se campanhas eleitorais também não fossem divertidas, quem as suportaria?

3 comentários:

  1. Assim como foi proibido o uso de baner's, cartazes e faixas penduradas nas ruas, deveriam vedar a utilização dos carros de som, cujos decibéis, somados à péssima qualidade musical, fazem mal à saúde pública. A poluição sonora é tão triste quanto à visual.

    Espero que a legislação avançe, pois o que não vai avançar, pela falta de educação, é a qualidade dos candidatos.

    Aliás, um dos muitos sinais que o eleitor deveria ficar de olho para não votar em candidato despreparado é justamente verificar o respeito que ele tem com as pessoas. Se já manda, na campanha, tocar um som muito alto, desrespeitando o sossego alheio, imagine o que fará quando assumir um cargo público?

    Cada povo tem o governo que merece. Não me lembro quem foi o autor da frase mas certamente o sujeito deu uma dentro.

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  2. Você tem razão, Anônimo.
    A Justiça Eleitoral deveria coibir isso também.
    Vou postar seu comentário na ribalta, hoje à tarde.
    Abs.

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  3. E tem um "candidato-construtor" que aparece de capacete e tudo o mais olhando para uma planta de engenharia (sabe lá que projeto seria esse..).
    Pela (in)expressão do "ator-candidato" , não faria nenhuma diferença se a planta estivesse de cabeça para baixo...rsrs
    Divertido demais.

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