sábado, 2 de agosto de 2008

Grampos de ontem, grampos de hoje

O advogado Domingos Emmi, em seu último artigo que regularmente é publicado às sextas-feiras, em O LIBERAL, conta histórias de grampos. De grampos passados.
Mas é interessante notar que a grampolândia sem controle de hoje é prática que, quando operada à margem da lei, configura ato espúrio, criminoso e, portanto, punível, sancionável.
Porque os grampos, quando disseminados e corriqueiros, tornam-se armas e instrumentos que se prestam à perfeição para atender a sentimentos de vindita - seja política ou pessoal.
Abaixo, o artigo de ontem de Emmi, intitulado “Arma velha e sórdida”:

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Habituada a ler sobre grampos de telefones que freqüentam o noticiário, a população acostumou-se, em decorrência, a eleger como padrão de avaliação a última escuta, para então sim, experimentar a sensação de indiferença, de revolta ou de simples espanto. E passou a mostrar-se cética, todas as vezes em que ouve, lê ou vê alguém reclamando da falta de proteção ao direito constitucional à intimidade.
A escuta clandestina, por exemplo, é uma velha e sórdida arma na política brasileira e costumava aparecer nas sucessões presidenciais.
Os leitores devem estar lembrados que ela apareceu em 1969, quando a Junta Militar assumiu o governo com a doença do presidente Costa e Silva.
O vice-presidente estava em Brasília e foi chamado pelos integrantes da Junta para uma reunião no Rio. No encontro, os militares avisaram Pedro Aleixo de que ele não teria condições de assumir o lugar de Costa e Silva e teriam citado como uma das razões um telefonema que havia mantido dias antes com o político mineiro José Maria Alkmin.
Na conversa, dizem que Alckmin sugeria ao vice que não fosse ao Rio, mas a Belo Horizonte, onde poderiam resistir ao golpe. Pedro Aleixo voltou a Brasília deposto, e o poder passou para a Junta Militar.
A mania da escuta voltou a surgir na sucessão de Geisel. Teria sido grampeado o telefone de um general apontado como alternativa às candidaturas de João Figueiredo e Euler Bentes Monteiro.
Bisbilhoteiros teriam descoberto que o general teria uma amante, seguiram o casal, fotografaram-no e passaram a chantageá-lo para que desistisse da candidatura.
Na filtragem dos decênios, verifica-se que o grampo vai até mais embaixo. Também na sucessão de Geisel, o general Hugo Abreu teria sido grampeado de todas as maneiras. Há quem diga que foi o careca com mais grampos em toda a História mundial dos penteados.
Poderíamos, rememorando aqui que João Figueiredo teve seu dia de caça pelos idos de 1983, salvo engano, quando se descobriu uma escuta clandestina instalada atrás dos lambris que revestiam as paredes de seu gabinete no Palácio do Planalto.
Verificou-se que nenhuma conversa de Figueiredo chegou a ser gravada, porque o gabinete estava fechado para reformas, mas a descoberta do apetrecho abelhudo nas suas barbas fragilizou-o politicamente.
Em geral, a escuta telefônica tem sido usada como forma de intimidar os inimigos, revelando e até forjando detalhes pessoais e comprometedores de suas vidas.
Na década de 70, um general do Exército em São Paulo mostrou ao então diretor-geral da Rede Globo, Walter Clark, um fato em que o então presidente da CNBB, dom Ivo Lorscheiter, aparecia sentado num cinema ao lado de uma mulher. Gente ligada à bisbilhotice teria conseguido seguir o bispo através de informações conseguidas com um grampo no seu telefone. O episódio está relatado no livro do próprio Clark: "O Campeão de Audiência".
Um dos escândalos políticos mais torpes só foi possível graças a uma escuta clandestina. Lá pelos idos de 1981, um deputado e esposa de um senador foram fotografados sem roupa num motel por um grupo de homens armados que invadiu o quarto.
A informação de onde poderiam ser encontrados teriam vindo das gravações dos telefones entre o casal.
Razões nos socorrem para crer que o grampo telefônico é realmente uma arma velha e sórdida que brilhou nas sucessões presidenciais e fora delas, que tanto nos fere, nos humilha e nos ensombra, enfim.

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