quinta-feira, 29 de maio de 2008

Não é só o sotaque que muda na Amazônia

Por Antonio Vital, apresentador do Programa Expressão Nacional.

Disponível no site Congresso em Foco.

 

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O ministro Mangabeira Unger assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos diante de muxoxos e críticas. Era mais lembrado por um famoso artigo em que desancava o governo Lula e por seu carregado sotaque americano que pela formação acadêmica de professor da Universidade de Harvard. Virou personagem folclórico de uma pasta apelidada pela imprensa de Sealopra, um trocadilho com os "aloprados" do dossiê contra Geraldo Alckmin nas eleições de 2006 – não confundir com o último.

Foi quase ridicularizado em recente périplo pela Amazônia, quando defendeu uma espécie de aqueduto até o Nordeste. Eis que surge um novo Mangabeira com a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. E as desconfianças e sorrisos irônicos parecem começar a se dissipar.

Na noite de terça-feira (27), o programa Expressão Nacional, da TV Câmara, reuniu em torno de uma mesa de debates quatro representantes de diferentes maneiras de ver a Amazônia: os deputados Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) e Giovanni Queiroz (PDT-PA), a deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) e o geógrafo Arnaldo Carneiro, da ONG Instituto Socioambiental. E todos perceberam uma mudança de foco no tratamento dado à Amazônia pelo governo. A saída de Marina Silva deu visibilidade a essa alteração.

A principal mudança de enfoque foi acrescentar a população da Amazônia à discussão. Outras, não menos importantes: dar tratamento diferenciado às diversas micro-regiões; propor incentivos fiscais para empresas que promovam desenvolvimento sustentável na Amazônia e até criar uma espécie de bolsa para que os moradores abandonem práticas predatórias. "Dar valor à floresta em pé", resumiu Mendes Thame.

A maioria dessas ações já estava prevista no Programa Amazônia Sustentável (PAS), elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente na gestão de Marina Silva. Quando a gestão do plano foi entregue por Lula a Mangabeira, Marina pediu para sair. E o limão que foi péssimo para o governo no primeiro momento, com a repercussão internacional que ressuscitou a velha cantilena de que a Amazônia é do mundo, e não do Brasil, pode acabar virando uma limonada. Mangabeira não tem um histórico de contenciosos com os chamados setores produtivos do agronegócio, como Marina, militante da causa ambiental que conseguiu reduzir quase à metade o nível de desmatamento da Amazônia nos últimos quatro anos.

 

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