sábado, 26 de abril de 2008

Desta vez, a Imprensa fica no nível do oficialesco

O casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá elegeram a Imprensa como a grande responsável pelas hostilidades que têm sofrido e pelo conceito negativo que se dissemina em todo o País, desde que ambos passaram a ser apontados como os únicos suspeitos da morte da menor Isabella.
Alexadre e Anna Carolina escolheram o alvo mais fácil para acusar em situações do gênero: a Imprensa, que, afinal, é quem divulga. E dependendo do que divulgar, será sempre eleita como o meio mais próximo e mais diretamente responsável pela destruição de reputações ou pela edificação de mitos.
É preciso, no entanto, ponderar um fato evidente, neste caso envolvendo a morte brutal dessa pobre criança: nenhuma revelação nova - absolutamente nenhuma – sobre este caso foi produzida por esforço próprio da Imprensa. Em todas as ocasiões – todas, sem qualquer exceção -, a Imprensa sempre esteve a reboque de revelações da polícia e, em escala menor, do Ministério Público. O noticiário tem sido, nesse aspecto, o mais oficialesco possível.
O que tem acontecido é que alguns veículos conseguem adiantar-se aos outros na divulgação das informações. Mas as fontes sempre têm sido a Polícia, como também os laudos emitidos pelo Instituto de Criminalística.
Esse caso é bem diferente do que aconteceu em outros escândalos recentes, como o que levou à queda do ex-presidente Fernando Collor de Mello e do Mensalão, só para mencionar dois mais conhecidos. Nessas ocasiões, jornais e revistas competiam para ver quem apresentava novos fatos e novas evidências a cada dia.
E em tais ocasiões, ao contrário do que tem ocorrido agora, a polícia, o Ministério Público e o Congresso é que estavam a reboque da Imprensa, que sempre chegava na frente. Tanto é assim que inquéritos e processos foram abertos com origem em reportagens jornalísticas.
O que isso quer dizer? Quer dizer que a Imprensa, a exemplo do que também tem ocorrido com a polícia e com o Ministério Público, tem-se conduzido com extrema cautela para não repetir o caso da Escola Base e para que não a acusem de arrogar-se a condição de delegado, promotor e juiz ao mesmo tempo.
O que o casal Alexandre-Anna Carolina e ninguém pode pretender é que a Imprensa deixe de informar. E a informação deve merecer, em jornais, emissoras de televisão, emissoras de rádio e em quaisquer outros meios, como os próprios blogs, relevância equivalente aos fatos que são objeto da informação.
Não é todo dia, afinal, que uma criança é atirada do sexto andar de um hotel e morre a caminho do hospital, em conseqüência da queda e da asfixia imediatamente anterior que sofrera. Não é todo dia que um pai e uma madrasta são indiciados por homicídio triplamente qualificado.
O casal – e tanto outros que têm debatido o assunto - gostaria que a Imprensa fizesse o quê? Que relegasse o caso a duas colunas, no rodapé das páginas de jornais? Que o assunto merecesse 15 segundos por semana nas emissoras de TV? Que tivesse uma breve menção no noticiário das emissoras de rádio?
Tratar um caso desses com menosprezo e reduzido destaque seria minimizar a brutalidade de um crime e as suas enormes repercussões sociais. E favoreceria, em conseqüência, os assassinos. Sejam eles quem forem.

Um comentário:

  1. Caríssimo Paulo,

    A ética que você possui e defende não é a mesma dos seus colegas que atuam no caso Isabela. Quer ver?

    No jornal nacional de ontem foram revelados dados sigilosos do interrogatório dos réus, inclusive com o reporter (César Tralli, salvo engano) mostrando em mãos as respectivas cópias. Inclusive ele fez questão de dizer que o documento foi obtido "com exclusividade" por aquele jornal.

    Meu amigo, não consta que o sigilo das investigações tenha sido retirado pela justiça.

    Ingago se há interesse da imprensa, ou da população, que seja maior que o interesse público do sigilo decretado nos autos?

    Se sigilo foi decretado como salvaguarda de direitos fundamentais, qual a razão para se divulgar aquilo que a própria justiça entende que não pode ser divulgado? Será que a imprensa pode tudo?

    E se tal infelicidade tivesse ocorrido conosco, gostaríamos de ver nossos nomes estampados na imprensa, ainda que culpados,? Não seria tripudiar com o sofrimento alheio?

    É normal que a família da vítima tenha contra os algozes sentimentos que não sejam nobre. Afinal, a dor alheia não pode ser medida. Mas e os outros? O que lhes dá o direito de desejar vingança?

    Meu amigo, o clamor social nada mais reflete do que o estado de espírito de um povo, e no caso brasileiro sabemos que a pauta de propblemas é suficiente para inflamar até mesmo uma gota d'água. Se houver quem alimente ainda mais essa chama, as conseqüências serão ser imprevisíveis.

    Que a imprensa trabalhe; que busque noticiar os fatos o mais próximo, ou igual, quem sabe, da realidade.Porém, jamais deve esquecer que mesmo o mais cruel dos criminosos merece de nossa parte compaixão, pois trata-se de um enfermo que precisa de remédios, cujo tratamento deverá ser dado pela própria sociedade que não soube atuar na prevenção. E isso independente de raça, sexo, cor ou classe social.

    Um forte abraço, amigo, e bom fim de semana.

    Roberto Paixão Junior

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