domingo, 30 de março de 2008

SIP encara imprensa chavista em Caracas

Em O ESTADO DE S.PAULO:

Não é nova a hostilidade do governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, em relação aos meios de comunicação privados que lhe fazem oposição. E essas rusgas voltaram à tona nos últimos dias, com a decisão da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, pelas iniciais em espanhol) de realizar em Caracas sua reunião semestral, que se encerra hoje. A SIP, constituída como entidade continental desde 1948, notabiliza-se por denunciar violações da liberdade de expressão e, nos últimos anos, tem alertado para as ações do Estado venezuelano contra a livre imprensa.
“No atual clima político instalado na Venezuela, realizar essa reunião em Caracas foi um grande desafio”, disse ao Estado Earl Maucker, presidente da SIP e diretor do jornal Sun-Sentinel, de Fort Lauderdale, na Flórida. “Mas de nenhum modo significa provocação. Estamos dispostos a conversar com o presidente Chávez. Ele foi convidado para o nosso encontro, assim como o ministro (de Comunicação e Informação) Andrés Izarra. Também pedimos que nos recebesse, mas, até agora, não tivemos resposta.”
Entre as principais preocupações da SIP em relação ao governo - que, em maio do ano passado, não renovou a concessão da emissora de maior audiência do país, a RCTV (leia ao lado) - estão os casos de assédio fiscal a empresas de comunicação, regulamentações que limitam o direito à informação, ausência de transparência na distribuição de propaganda oficial etc.
“Sempre que ocorre um protesto contra o governo, vejam que coincidência, a Globovisión (emissora de TV privada de linha opositora) chega ao local em minutos”, indignou-se o diretor da estatal Agência Bolivariana de Notícias (ABN), Freddy Fernández, durante o Encontro Latino-Americano contra o Terrorismo Midiático - o “fórum alternativo bolivariano” organizado pelo chavismo em reação à presença da SIP na capital. A Globovisión respondeu em editorial: “Não é coincidência, sr. Fernández! É jornalismo independente.” O fórum pró-chavista teve início na quinta-feira, um dia antes do início da reunião da SIP, com denúncias de vínculos da entidade com a CIA e o Departamento de Estado dos EUA. De acordo com a maioria dos participantes, a SIP é o eixo de uma grande conspiração de “terrorismo midiático” com o objetivo de “minar os esforços dos governos progressistas para promover justiça social” e de “atender aos interesses do império e do grande capital”.
Ontem à tarde, um pequeno grupo de manifestantes chavistas encenou uma peça teatral sobre o conflito entre a mídia, o povo, o Estado e o grande capital, na frente do hotel onde se realizava a reunião da SIP. O protesto terminou pacificamente.

Imprensa oficial
O governo tem veiculado amplamente a tese da conspiração midiática por meio rede de comunicação do Estado venezuelano, que inclui quatro emissoras de TV - sem contar a Telesul, consórcio formado com outros países sul-americanos do qual a Venezuela é a maior acionista -, duas rádios de alcance nacional, uma agência de notícias e centenas de meios comunitários.
“Nos últimos dias, o ministro Izarra adotou a política de enviar cartas a meios do exterior, como o jornal americano Washington Post e o espanhol El País, para queixar-se do que chamou de campanha contra o governo da Venezuela”, disse o diretor do jornal venezuelano El Nacional, Miguel Mora. “Não seria mais eficiente o governo deixar de praticar ações negativas, abrir-se ao diálogo e parar de qualificar qualquer meio que lhe faça críticas de subversivo ou terrorista?”
“Não haverá diálogo nem reconciliação entre o governo e os meios de comunicação e a sociedade venezuelana enquanto Chávez e seus ministros não abandonarem a retórica conspiratória, que tacha de traidores da pátria todos os que fazem críticas”, diz Teodoro Petkoff, diretor do jornal Tal Cual.

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