sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Ana Júlia pede uma chance ao separatismo

Em entrevista, Ana Júlia Carepa faz um balanço de seu primeiro ano de governo, ataca os tucanos, não fala sobre o caso de Abaetetuba, diz que continua a ser discriminada e confirma que o PT terá candidato próprio às eleições de 2008 em Belém

A governadora Ana Júlia Carepa (PT) pediu uma chance aos movimentos separatistas que defendem a criação de novas unidades territoriais a partir do retalhamento do Estado do Pará, como é o caso do Estado do Tapajós, na região oeste do Pará.
“Acho que é possível a população dar um tempo para o governo descentralizar concretamente suas ações e ir para as regiões”, afirmou Ana Júlia, na entrevista que concedeu nesta sexta-feira ao “Sem Censura Pará”, da TV Cultura. No programa, apresentado pela jornalista Renata Ferreira, ela foi entrevistada pelos jornalistas Paulo Roberto Ferreira - diretor da TV Cultura -, Joyce Santos e Ana Prado.

O programa terminou há pouco. Durou pouco mais de 1 hora e meia. Ana Júlia foi sucinta sobre alguns temas e genérica em relação a outros, como na abordagem sobre a redução dos índices de criminalidade em Belém. Não deu uma palavra sequer –porque não foi questionada – sobre um caso de repercussão mundial e que deflagrou a maior crise em seu governo: o da menor L., presa com homens na cadeia de Abaetetuba, onde foi por vários dias seguidamente estuprada e torturada.
A governadora confirmou laconicamente que o secretariado sofrerá algumas reformas e falou quase nada sobre as articulações para as eleições de 2008 em Belém, mas garantiu: “O PT deverá ter candidato (ao pleito em Belém), e vou esperar a posição do partido”.
A governadora não perdeu a oportunidade de espetar, em várias ocasiões, a pena dos tucanos. Disse que recebeu a área da segurança pública numa “situação escabrosa” e afirmou que seu governo, ao contrário dos anteriores, não discrimina prefeitos, independentemente do partido a quem pertençam. “Fomos perseguidos pelo governo do PSDB, quando eu era vice-prefeita de Belém. Houve uma perseguição política”, lembrou a governadora.
A seguir, o Espaço Aberto destaca os principais momentos da entrevista:

RELAÇÃO COM A IMPRENSA
“Tenho um amigo que diz que eu tenho três pecados: ser mulher, do Norte e do PT. Setores da mídia mais conservadores que batem no Lula de manhã, de tarde e de madrugada também batem na gente. Não posso mudar o conceito discriminatório da mídia.”

SEGURANÇA PÚBLICA
Ana Júlia disse que o governo do Estado está preocupado em estruturar melhor o setor. Para isso, serão admitidos mais 1.800 policiais por concurso público. Reflexos do aumento do efetivo, porém, só deverão se refetir em julho do ano que vem, estimou a governadora, uma vez que há procedimentos burocráticos naturais decorrentes da realização de concursos públicos.
Mencionou a aquisição de equipamentos e veículo, além do retorno de mais de 400 policiais aos quartéis, para atuar na atividade-fim, ou seja, o policiamento.
Ressaltou a criação da Rotam e disse que “houve diminuição no índice de criminalidade nos finais de semana, nos bairros”. Isso é visível”, afirmou a governadora, que não apresentou números.
“Uma das piores heranças que recebemos foi na área da segurança pública, mas não podemos ser julgados neste primeiro ano de governo”, afirmou a governadora. Ela ressaltou que apenas em 2007 foram presas três vezes mais pessoas do que em 2006, daí a lotação das cadeias.
Admitiu que em alguns bairros de Belém os PM-Boxes poderão ser reativados, num contexto de atuação integrada entre várias instâncias no setor da Segurança Pública.

SEPARATISMO
Planejamento participativo é um compromisso de campanha para integrar o Estado. “É possível a população dar um tempo para o governo descentralizar concretamente suas ações e ir para as regiões”, disse Ana Júlia. “As políticas públicas não ficam mais circunscritas a Belém. A Bolsa Trabalho, por exemplo, foi lançado em três regiões.”

SAÚDE
“O Hospital Regional de Santarém está funcionando plenamente até março de 2008”, garantiu Ana Júlia.

COPA DO MUNDO
Já existe projeto de R$ 100 milhões para deixar o Mangueirão em condições de tornar o Pará uma das sedes do Mundial de 2014.

REFORMA NO SECRETARIADO
“É um processo natural”, afirmou. Confirmou a saída de Mário Cardoso da Seduc e a entrada do atual superintendente da Polícia Federal, Geraldo Araújo, na Secretaria de Segurança Pública. Disse que a saída de Vera Tavares da Segup tem “pouco a ver” com o caso da menor L., presa com homens em Abaetetuba. Foi o único momento - segundos, se tanto - que a governadora se referiu ao caso de Abaetetuba.

ELEIÇÕES DA UEPA
“Vamos respeitar o processo democrático. Vamos escolher (o novo reitor) dentro das regras. Desconheço que exista documento em que os dois outros menos votados abram mão em favor do primeiro”, disse Ana Júlia. A conclusão é que pode ser escolhido ou o primeiro mais votado, Sílvio Gusmão, ou o segundo, Bira Rodrigues, ou o terceiro, Ana Cláudia Hage.

EDUCAÇÃO
O governo tem reformado escolas, capacitado professores, melhorado a rede hídrica da escola e investido na qualidade do ensino.

TEMPORÁRIOS
Decisão de dispensá-los está mantida. “Herdamos uma situação daqueles que não tiveram coragem de resolver o problema. Foi uma situação de descalabro”, afirmou, em referência aos três governos tucanos que a antecederam.

PARQUES TECNOLÓGICOS
Ana Júlia confirmou que serão implantados parques tecnológicos que funcionarão como “incubadoras de empresas”. A Eletrobras já se comprometeu a montar, no parque do Guamá, um laboratório de eficiência energética, disse Ana Júlia.

PARCERIAS
“O tempo do governo do Estado que perseguia prefeitos que não eram do seu lado acabou”, disse a governadora. O Estado, segundo ela, tem feito parcerias com prefeitos, independentemente de colorações partidárias. “Fomos perseguidos pelo governo do PSDB, quando eu era vice-prefeito de Belém. Houve uma perseguição política”, afirmou.
Ressaltou que o Estado assinou convênios com a Prefeitura de Belém, para a qual repassou R$ 3,5 milhões para a construção de habitações na Vila da Barca e R$ 18 milhões para obras de saneamento. “Vamos fazer parcerias em todos os municípios”, insistiu.

AGRICULTURA
A agricultura familiar será valorizada em todas as regiões do Estado, por meio do fortalecimento do associativismo e da criação de cooperativas. Para isso, a Emater terá um papel fundamental.

GERAÇÃO DE EMPREGOS
Até novembro, já houve um saldo positivo de 32 mil empregos no Estado. “Todos foram empregados com carteira”, disse Ana Júlia. Acrescentou o PAC também deverá gerar milhares de empregos em várias áreas, inclusive saneamento e saúde. Bolsa Trabalho será essencial para capacitar jovens em idade de ingressar no mercado.
Destacou a assistência a 22 mil jovens inscritos no Bolsa Trabalho. Considerou que o programa é um efetivo instrumento de combate à violência. Exatos 698 jovens já estão trabalho, informou Ana Júlia.

TURISMO E TRANSPORTE FLUVIAL
Reconheceu que é preciso melhorar a infra-estrutura. “Se não há saneamento, água, estradas”, o turista não vem”, afirmou. Disse que foi criado um grupo de trabalho para cuidar do assunto. O governo do Estado, segundo ela, pretende construir 11 portos aquaviários e melhorar o sistema de transporte para a Ilha do Marajó. “Vamos cassar as concessões das empresas (em atuação) que não cumprirem o contrato. Já cobrei que a Arcon exija o cumprimento dos contratos”, disse Ana Júlia.

DESMATAMENTO
A meta é diminuir o desmatamento e aumentar o reflorestamento. Foi assinado com a Vale um acordo que permitirá o monitoramento das queimadas.

Um comentário:

  1. em verdade, meu caro, a sensação geral ao final da entrevista foi de frustração. A governadora nem conseguiu fazer um balanço efetivo dos avanços no primeiro ano de governo nem deixou claro quais serão suas metas para 2008. Continua no discurso genérico, quase como se ainda estivesse em campanha.
    No final das contas, noves fora, nada. A montanha pariu um rato. Ana Júlia tinha tudo para encerrar o ano com uma entrevista redentora. Ficou na generalidade. Não disse ainda ao que veio. Espero fervorosamente que diga nos próximos três anos.
    Agora, esse silêncio sobre o caso de Abeetetuba e o caos da Segurança - setor que aliás, foi um dos seus motes de campanha - foi de matar. Será que houve censura ao Sem Censura?

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