sábado, 14 de março de 2009

Socialismo? Qual? Onde?

Na VEJA:

No sábado ensolarado de 7 de março, um grupo de americanos de classe média reuniu-se num parque de Lafayette, no estado de Louisiana, para protestar contra a "agenda socialista" do presidente Barack Obama. Em duas horas, os manifestantes fizeram discursos contra a torrente de dinheiro público usada para salvar empresas e bancos e ergueram cartazes em que os democratas eram chamados de "comunistas" e a imagem de Obama aparecia decorada com foice e martelo, o símbolo dos partidos comunistas. Coisa de um grupelho de lunáticos que não tem mais que fazer? Nada disso. Eminências da direita mais empedernida da política americana deram para denunciar que as medidas tomadas por Obama para combater a crise estão colocando os Estados Unidos na rota do socialismo. "Socialismo, coletivismo, Stalin, como vocês quiserem chamar", esperneou o radialista mais popular e mais conservador do país, Rush Limbaugh. Aos 58 anos, ex-viciado em analgésicos, podre de rico e – incrível para um radialista – surdo dos dois ouvidos há oito anos, Limbaugh está se tornando o porta-voz da ala mais provocadora da direita republicana. "Obama está destruindo o capitalismo. Esse é o objetivo dele." Estridente como Limbaugh, há um batalhão.
O senador republicano Jim DeMint, da Carolina do Sul, diz que Obama é "o melhor propagandista do socialismo". O ex-quase-presidenciável Mike Huckabee, que perdeu a disputa pela candidatura para o senador John McCain, disse que Obama está criando "repúblicas socialistas" no país, e completou: "Lenin e Stalin iam amar isto aqui". O assunto virou capa de revista e está no parachoque dos carros na forma de adesivos que saúdam o presidente como "camarada Obama" e o país como "União dos Estados Socialistas da América". Os trombeteiros do "socialismo americano" começaram a se agitar porque, para domar a crise, o governo americano está drenando oceanos de dinheiro público na economia, despertando o perigo do gigantismo estatal. A uma única seguradora, a AIG, já deu 180 bilhões de dólares. Só para os dois maiores bancos, Bank of America e Citigroup, entregou 100 bilhões. Às duas maiores indústrias automobilísticas, GM e Chrysler, foram 17 bilhões e talvez despache mais 22 bilhões. O mais pedestre raciocínio ideológico concluiu que, se a Casa Branca está se metendo em diversos setores da economia, o socialismo chegou à América. Ou, se ainda não chegou, está a caminho.

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