sábado, 1 de novembro de 2008

A História quer Obama

Na ÉPOCA:

De tempos em tempos, a cada par de gerações, uma eleição americana catalisa as atenções planetárias e transforma cada um de nós em apaixonados eleitores a distância. Foi assim com Richard Nixon versus John Kennedy, no auge da Guerra Fria. O jovem Kennedy falava duro com os comunistas e, ao mesmo tempo, acenava com planos sociais grandiosos. Venceu apertado em 1960. Foi assim com Ronald Reagan contra Jimmy Carter, em 1980. Reagan representava uma revolução conservadora. Carter, um idealista preocupado com direitos humanos, se agarrava às melhores intenções (e aos piores resultados) do Partido Democrata. Reagan venceu com uma avalanche de votos e promoveu uma profunda mudança no país.
Agora, quase 30 anos depois do início da era Reagan, os americanos se preparam para uma escolha presidencial que pode entrar para a História como a mais importante dos últimos cem anos. A eleição marcada para a próxima terça-feira, dia 4 de novembro, já se converteu em marco antes mesmo de seu resultado vir a público. Ela ocorre em circunstâncias tão graves – a maior crise econômica desde 1929, com traços horrivelmente semelhantes aos da Grande Depressão – que faz lembrar a eleição em que Franklin Delano Roosevelt bateu o republicano Herbert Hoover, em 1932. A primeira das três vitórias consecutivas de Roosevelt influenciaria o capitalismo e a sociedade americana pelos 50 anos seguintes. Marcaria aquele que Henry Luce, o criador da revista Time, chamaria de o século americano – o século XX. O personagem central da eleição atual é Barack Hussein Obama, de 47 anos, o primeiro negro com chance de se tornar presidente num país que até 1963 praticava a discriminação legal. Sua ascensão é um exemplo espetacular da capacidade de auto-regeneração americana. Ela constitui uma revolução política e social maior do que foi, em sua época, a vitória do católico Kennedy, presidente aos 43 anos.
A história de Obama se assemelha, de alguma forma, à do presidente Lula, um nordestino, sindicalista e sem diploma – uma combinação biográfica que, em outros tempos, não lhe permitiria chegar nem perto do Palácio do Planalto. Como Obama, Lula superou preconceitos. Sua vitória tornou mais arejada a vida pública brasileira. Como Lula, Obama promete usar a renda e o poder do Estado para corrigir injustiças sociais. Como Lula, Obama desperta esperanças enormes e, provavelmente, injustificadas. Se tiver sorte e debelar a crise econômica ao longo de seu mandato, Obama poderá ser comparado a Roosevelt – como Lula já foi comparado a Getúlio Vargas, o grande herói das massas trabalhadoras brasileiras.

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