terça-feira, 29 de abril de 2008

Entre os pecuaristas e os frigoríficos, o boi em pé

A pecuária paraense – considerada hoje uma das melhores do país - está vivendo um momento de intensa polêmica. De um lado, os pecuaristas, à frente a Federação da Agricultura e da Pecuária do Estado do Pará (Faepa), acusam a indústria de frigoríficos de pretender criar uma reserva de mercado, através de críticas à exportação de bois vivos. De outro, os frigoríficos, representados pela União das Indústrias Exportadoras de Carne do Estado do Pará (Uniec), acusam os produtores de especulação. Existe também divergência quanto ao número de cabeças de gado existente no Estado, que varia entre dois extremos - 12,8 milhões e 20 milhões. Para completar, os exportadores de bois vivos enfrentam a disposição do Ministério Público, que conseguiu na Justiça suspender o embarque dos animais pelo porto de Belém, "por ser uma atividade poluidora ao meio ambiente das regiões localizadas ao seu redor", principalmente da Estação das Docas, centro de atração de turistas na capital paraense.

"O que a indústria quer é formar uma reserva de mercado. E vamos reagir: reserva de mercado, não. Pagar preço baixo para o produtor, também não", afirma Carlos Xavier, presidente da Faepa. "Quando os pecuaristas afirmam que não vendem pelo preço 'baixo' que os frigoríficos pagam, admitem que estão deixando de vender para forçar a alta dos preços e isto não passa de forte especulação", contra-ataca Francisco Victer, presidente da Uniec.

Carlos Xavier inicia sua entrevista apresentando alguns dados sobre a pecuária paraense, que vem crescendo expressivos 16% ao ano, o dobro do crescimento de Mato Grosso, em segundo lugar. O primeiro motivo para esse bom desempenho, segundo ele, é um ambiente propício, com uma temperatura média de 24 graus de janeiro a janeiro, "o que nos permite propiciar sempre o bem estar ao animal". Depois, existe a boa disponibilidade de água, bem distribuída e que, junto com a luminosidade, favorece as pastagens. Xavier ressalta ainda a disponibilidade de área na região, o que permite a oferta de um preço pela terra bem mais reduzido em relação a áreas tradicionais de pecuária no Brasil.

"Além disso, o Pará é o Estado que mais aplica tecnologia na pecuária. O que acontece também é que cada vez mais regiões tradicionais, como Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estão abrindo espaço para a plantação de cana-de-açúcar para a produção de etanol. E com isso têm empurrado a pecuária para a Amazônia e particularmente para o Pará", diz Xavier.

Para o presidente da Faepa, a pecuária paraense tem um rebanho em torno de 20 milhões de cabeças. Ele lembra que quando Victer era diretor da Adepará, a agência estadual de defesa animal, chegou a anunciar a existência de quase 19 milhões de animais. "Ele tem o cadastro de cada animal. E agora que está fora da agência, esses dados não estão mais válidos. O que vale para ele agora são os dados do IBGE, que a gente sabe que têm uma defasagem muito grande, não são dados reais", afirma Xavier.

 

Leia mais no Pará Negócios, do jornalista Raimundo José Pinto

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