sexta-feira, 28 de agosto de 2020

O Pará já teve mais de 1,3 milhão de infectados pela Covid, mas volta às aulas. Viva o nosso "novo normal".


O
novo normal apavora.

O novo normal, que nunca foi tão velho, é apavorante, excruciante, aflitivo.

Mas quem, num momento como este, haverá de incomodar-se, de afligir-se com mortes, com pessoas infectadas e com milhões de pessoas expostas a este vírus mortal?

Poucos, muito poucos estão aflitos em decorrência da tragédia que passa ao lado, que está na venta de todos, que está à vista mesmo dos que, podendo enxergar, não querem enxergar nada. Nem a tragédia.

No Pará, até agora, já morreram 6 mil pessoas vítimas da Covid-19 E 197 mil foram infectadas. São números oficiais.

O Estado, no entanto, tem mantido, de maio para cá, uma redução expressiva no número de mortes e de infectados. É o que apresentam os números coligidos e divulgados pela Sespa diariamente.

No real, no real mesmo, temos uma outra realidade: pelo menos 1,3 milhão de pessoas já tiveram Covid no Pará.

De onde brota essa estatística tenebrosa? Brota de pesquisa encomendada pelo governo e realizada, com amaparo em metodologias confiáveis, pela Uepa.

E aí?

E aí que o governo do estado está autorizando, a partir do dia 1º de setembro, a retomada das aulas presenciais nas escolas de ensino públicas e privadas, nos ensinos Infantil, Fundamental, Médio e Superior. em municípios que estejam em bandeira amarela, verde e azul.

Deverão ser respeitadas medidas de distanciamento e os protocolos de segurança apresentados pelo Comitê Técnico Assessor de Respostas Rápidas à Emergência em Vigilância em Saúde Referentes ao Novo Coronavírus (Ncov), da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

O decreto não é impositivo. É autorizativo, ou seja, fica a critério de cada escola voltar ou não às aulas. Mas todas, é claro, vão voltar.

A obrigatoriedade da observância de regramentos para o retorno às aulas é suficiente para evitar a expansão da doença?

Não é.

Porque, vejam bem, não temos 197 mil de pessoas que já tiveram Covid. Temos 1,3 milhão - isso em apenas 52 municípios dos 144 municípios do estado. Se ampliado esse espectro estatístico, teremos muito mais.

Este número - o da pesquisa epidemiológica da Uepa - é que deveria orientar condutas e ações para se avaliar a pertinência da reabertura gradual de vários setores.

Mas não.

É impressionante, é trágico que nem a tragédia do vizinho nos comove. Nem a tragédia de quem está ao lado nos toca.

Vejam o caso do vizinho Amazonas.

No Amazonas, foram registradas cenas horrorosas - muito mais que as vistas em Belém, diga-se - durante o pico do pandemia.

Mesmo assim, o Amazonas foi o primeiro estado do País a reabrir as escolas públicas, no dia 10 de agosto. Após protestos e casos confirmados de Covid nas unidades, o governo anunciou a testagem em massa de 30 mil profissionais da educação, tanto da capital quanto do estado, que começou a ser realizada no dia 18 de agosto.

E o que aconteceu?

Aconteceu isso aí, estampado na imagem que ilustra esta postagem,

Depois do retorno às aulas, detectou-se que o número de profissionais da Educação no Amazonas que testaram positivo para Covid-19 subiu para 342, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM).

No dia 21 de agosto, a Secretaria de Estado de Desporto e Educação (Seduc) divulgou que, nos três primeiros dias de testagem, 162 profissionais testaram positivo para a doença. Durante a audiência pública, nesta terça-feira (24), a FVS informou que com mais dois dias de testagem, o número total de infectados subiu para 342.

O Pará deveria olhar para exemplos assim e retardar, o quanto fosse possível, o retorno às aulas.

O novo normal, todavia, exerce notável poder de sedução sobre todos - tanto sobre a galera que entope as praias como sobre outros segmentos, como o educacional, que se presumia mais fértil à racionalidade e ponderação.

Mas que nada.

Racionalidade e ponderação, nestes tempos malucos, são qualidades que tipificam um perfeito idiota.

Basicamente é isso.

3 comentários:

  1. Acabei de ver o Secretário da Saúde dizer que não tem problema o pessoal voltar as aulas. Tudo dominado por este desgoverno barbalhiano com suas barbalhidades, depois nem o remédio salvador do nosso Presidente poderá evitar o pior. Mas enfim é o que dá o comprometido STF se meter onde não deve e dar carta branca a estes governadores enrolados para resolver esta pandemia.

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  2. Acho que o governador de vcs cedeu às pressões . No linguajar erudito: fraquejou

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  3. Anônimo7/9/20 18:15

    A volta às aulas é resultado da pressão econômica e social que ocorre não somente no Estado do Pará, mas em todos os demais Estados. Foge ao poder dos governadores ou do mediocre.

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