quarta-feira, 26 de março de 2014

Reflexões serenas do rei-filósofo

Por Alberto Dines, no Observatório da Imprensa
A estreia de Roberto Dávila no canal de notícias GloboNews (sábado, 22/3, 24h), entre outros méritos trouxe o ministro Joaquim Barbosa em ângulo diferente do magistrado irado e implacável que as câmeras de TV costumam captar nas sessões da corte suprema.
Sempre enfatizando seu distanciamento da política partidária e negando sua admissão na disputa eleitoral deste ano, Barbosa deixou-se impregnar pelo espírito do logradouro onde ocorreu a entrevista – a Praça dos Três Poderes – e apareceu muito à vontade como rei-filósofo, judicioso, reflexivo.
Entre suas ponderações, uma sugere desdobramentos neste Observatório. Ao constatar que nossa mídia ocupa-se mais com pessoas do que com ideias, o ministro Barbosa nos remete obrigatoriamente à opinião manifestada há cerca de oito meses, no exterior, sobre o mesmo tema: nossa mídia não é pluralista.
Relevância em risco
Se a imprensa que serve à sociedade atende mais à sua vocação mundana e, por outro lado, não é suficientemente diversificada e matizada, temos diante de nós uma radiografia bidimensional próxima da realidade porque envolve qualidade e quantidade.
Preocupante: uma imprensa aferrada aos desempenhos individuais, desatenta aos movimentos capazes de produzir mudanças, e, ainda por cima, altamente concentrada, condena-se a confinar-se à esfera do espetáculo, secundarizada, a reboque do oportunismo e da aleatoriedade.
O sutil diagnóstico do meritíssimo escapou aos analistas que no dia seguinte, conseguiram comentar a entrevista (certamente porque tiveram acesso à gravação antes da exibição). E aqui uma situação ainda mais grave: se a imprensa passa ao largo das avaliações sobre o seu desempenho está abdicando conscientemente da relevância que tem no mundo contemporâneo.
Em outras palavras: o Quarto Poder não se enxerga na Praça dos Três Poderes.
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Com a contratação de Roberto Dávila, Mário Sérgio Conti, Fernando Gabeira e a revalorização de Geneton Moraes Neto, a GloboNews retoma a estratégia de produzir uma TV adulta. Há exatos dois anos, este observador fez registro idêntico a propósito da qualidade do Jornal das 10. Resultado: o âncora foi trocado e espalhou-se informalidade e descontração na grade noturna. Espera-se que, desta vez, o elogio funcione a favor do telespectador.

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