segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Admirável mundo da educação



O Brasil é um país especial. Talvez não haja uma nação no planeta onde se fale tanto em educação. Fala-se muito no ensino para dar a falsa impressão à maioria dos brasileiros de que os problemas são profundamente complexos. Todos os dias vemos comentários na mídia, declarações de políticos apontando a educação como prioridade, empresários pregando mais atenção à formação, especialistas com planos mirabolantes. Todavia, os resultados são, fora algumas exceções que merecem nota, absolutamente desalentadores.
Esse paradoxo aparente pode ser explicado de maneira relativamente simples: fala-se muito para dar a impressão de que os problemas educacionais tupiniquins são profundamente complexos e compreensíveis apenas para uma minoria de especialistas que cobram consultorias a preço de ouro. Quando simplesmente nossos problemas educacionais são, contudo, básicos e pedem apenas uma combinação de políticas de longo prazo com investimentos maciços, ou seja, constância e dinheiro.
O militar e ministro de Estado Golbery do Couto e Silva – um dos pensadores do governo militar dos anos 60 – afirmava que “fora do poder não há salvação”. Referia-se tanto aos intelectuais que historicamente sempre estiveram e estão ligados aos poderes oficiais e aos políticos para muitos dos quais não há fronteira real ou virtual entre “situação e oposição”, não há tempo ruim para quem vive atolado no subterrâneo dos poderes. São eles que contribuem para o empobrecimento do ensino e para a miséria cultural do País.
Um exemplo que excede dessa estratégia toca a situação dos professores. Aliás, não é necessária muita investigação para entender que o sucesso do processo educacional tem, como condição necessária, a existência de um corpo docente altamente qualificado e motivado. Para termos tal corpo, faz-se necessário que a profissão de professor seja atrativa aos olhos dos nossos jovens mais brilhantes. Eles devem se sentir motivados a abraçar a carreira, eles devem identificá-la como uma carreira capaz de garantir um sólido reconhecimento social. Obviamente, caso isso não ocorra, eles simplesmente procurarão outra profissão.
Antes de discutirmos o ponto relacionado aos custos, vejam como se constrói um sofisma. Vez por outra, alguém aparece para falar que a equação altos salários/boa educação não se sustenta. Elas simplesmente confundem “condição necessária” com “condição suficiente”. Na realidade não há nenhuma equação que garanta a qualidade da educação, mas há um conjunto de fatores que, quando presentes, fornece resultados alentadores. Mas há quem goste de falar que o que motiva professores não é necessariamente o salário, mas a “grandeza da profissão”, “é como se fora um sacerdócio”, “o prazer de ensinar” e outras pérolas do gênero. Há que limitar o cinismo desses arautos do altruísmo alheio. Ah, professor não faz voto de pobreza.
Em 1997, o pensador italiano Norberto Bobbio escrevia: “Chega ao fim o século “breve”, como foi chamado, mas marcado por acontecimentos terríveis: duas guerras mundiais, a revolução russa, comunismo, fascismo, nazismo, o surgimento pela primeira vez na história dos regimes totalitários... Para terminar, o fenômeno, novo em parte, do terrorismo internacional, incompreensível, indecifrável e, pelo menos por ora, invencível”.
Quando um governo coloca questões educacionais como prioridade real, soluções podem sempre ser encontradas.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

2 comentários:

  1. Anônimo3/1/11 09:15

    Ainda predomina no Brasil a ideia de que precisamos formar nossas elites para assumir os postos chaves. Se estamos interessados somente com a elite porque se preocupar com a massa?

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  2. A verdadeira frase do Golbery é esta: "não há salvação fora do mundo do trabalho".

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